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À medida que a COP30 se aproxima, a verdadeira ação está nas ruas

A poderosa mobilização popular no Brasil aponta o caminho para o futuro que precisamos

16 de maio de 2025 | Pedro Charbel | De Olho na Amazônia

Crédito: Anderson Barbosa

Enquanto o mundo se prepara para a COP30 – a próxima grande cúpula climática das Nações Unidas – todos os olhos estão voltados para a Amazônia brasileira, onde a conferência acontecerá pela primeira vez.

Enquanto os negociadores do governo se reúnem a portas fechadas, algumas das ações climáticas mais impactantes ocorrerão fora dos espaços oficiais. Movimentos populares, lideranças indígenas e organizações da sociedade civil estão se mobilizando em todo o Brasil para destacar o verdadeiro caminho a seguir: justiça climática enraizada na soberania alimentar, na defesa da terra e na sabedoria ancestral.

Um dos pontos centrais desse movimento popular é uma extraordinária Caravana de 3,000 quilômetros que se estende do estado de Mato Grosso, potência produtora de soja do Brasil, ao Pará, estado sede da COP30 – notório pelo desmatamento desenfreado e pelos assassinatos impunes de Defensores da Terra. A Caravana seguirá a principal rota de exportação de grãos da Amazônia para a China e a Europa, denunciando o modelo destrutivo do agronegócio e apresentando uma alternativa ousada e viva.

Ao longo do caminho, ele literalmente alimentará o movimento pela mudança: a Caravana fornecerá alimentos saudáveis ​​e agroecológicos para milhares de refeições coletivas servidas. a caminho e no Cúpula do Povo – um grande evento paralelo que deve reunir 15,000 pessoas lutando por justiça social e ambiental.

A Caravana é um lembrete concreto de que, muito antes de os corredores logísticos transnacionais cortarem a floresta para lucro privado, a Amazônia era – e continua sendo – um lugar de imensa diversidade cultural e biológica. Há muito tempo, abriga vibrantes tecnologias de base e conhecimentos tradicionais. Pesquisas recentes até mesmo refutam a noção de que a Amazônia seja uma floresta primordial, mostrando que grande parte de sua enorme biodiversidade foi plantada e cultivada por povos indígenas ao longo de milhares de anos.

Graças à luta dos povos indígenas, comunidades amazônicas e movimentos sociais, esta região vital tem resistido a intensa pressão. Sem eles, vastas áreas já teriam sido convertidas em monoculturas de soja, fazendas de gado, cicatrizes de mineração e rios mortos.

Esses guardiões protegeram nosso futuro da ganância e do lucro dos oligarcas e das corporações transnacionais. Eles nos mostraram o caminho – eles são a resposta, como destacou a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

A derrota de Jair Bolsonaro pelo presidente Lula foi um passo crucial na luta para conter as forças destrutivas da Amazônia, mas estamos longe de realmente vencer essa batalha. A extrema direita continua poderosa no Brasil. A bancada ruralista, retrógrada do agronegócio, detém 303 das 513 cadeiras do Congresso Nacional. E, apesar dos compromissos positivos e das melhorias concretas do governo Lula, alguns de seus próprios ministros estão alinhados com o objetivo destrutivo de transformar o Brasil no maior celeiro do mundo.

A proposta de Mega-ferrovia Ferrogrão é uma parte fundamental dessa estratégia perigosa. Idealizado pela Cargill e outras grandes empresas de commodities, o projeto permitiria um aumento de seis vezes nas exportações de soja e milho ao longo do Rio Tapajós. Ao fazê-lo, incentivaria ainda mais a destruição dos biomas Cerrado e Amazônia – transformando florestas vibrantes em plantações e violando os direitos de comunidades indígenas e locais. Ignorando opções logísticas alternativas e apresentando um planejamento profundamente falho, a Ferrogrão é o oposto do que o povo brasileiro precisa.

Cartaz erguido por manifestantes indígenas em Brasília durante Acampamento Terra Livre deste ano resumiu um sentimento comum: a culpa é do agronegócio por os alimentos estarem tão caros no Brasil. Não há necessidade de mais soja para alimentar animais em terras distantes – o povo quer comida!

Em uma das mobilizações populares mais marcantes da COP30, a Caravana trará uma mensagem oportuna: para atender às nossas reais necessidades, uma grande mudança precisa acontecer — restringindo o atual desenvolvimento voltado para a exportação de soja e impulsionando a agricultura regenerativa e familiar, bem como a agroecologia.

Amazon Watch tem orgulho de apoiar esta luta. Permanecemos comprometidos em trabalhar em solidariedade com parceiros locais para desafiar o agronegócio destrutivo e promover a agroecologia como uma visão alternativa vital para o desenvolvimento. A luta pela segurança e soberania alimentar é inseparável da luta pela justiça climática e pela preservação da Amazônia.

O futuro da humanidade depende do nosso sucesso nessas batalhas cruciais, desde os corredores da COP30 até as cozinhas populares que alimentam nossa resistência. Para vencer, precisamos ser tão criativos quanto firmes – construindo força ao forjar um terreno comum com movimentos que inspirem uma base cada vez maior. Da defesa dos direitos humanos e das florestas administradas pelos povos indígenas à promoção de uma visão regenerativa para a agricultura amazônica, a mudança deve surgir de muitas fontes.

É claro que há muito a aprender com o conhecimento ancestral indígena e as técnicas agrícolas tradicionais para aprimorar nossa relação com a natureza e a produção de alimentos. À medida que nos aproximamos da COP30, não nos deixemos distrair por debates cansativos e diplomacia performática. Algo muito mais poderoso está acontecendo, e começou muito antes de nossas vidas. Nas palavras do filósofo indígena Ailton Krenak: "O futuro é ancestral".

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