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2024 pode ser o fim do jogo para os direitos às terras indígenas no Brasil

20 de dezembro de 2023 | Ester Oliveira | De olho na Amazônia

2024 está prestes a ser um período de maior mobilização e resistência para os povos indígenas do Brasil, à medida que continuam a enfrentar o polêmico “Prazo” (“Truque de limite de tempo”) tese jurídica. Esta escandalosa proposta afirma que os povos indígenas que não estavam presentes em suas terras no momento da promulgação da Constituição Federal em 5 de outubro de 1988 não têm direito ao reconhecimento de suas terras tradicionalmente ocupadas.

A luta contra esta interpretação jurídica retrógrada, que representa uma grave ameaça aos direitos dos povos indígenas, tem se desenrolado tanto no Supremo Tribunal Federal quanto no Congresso Nacional. Para enfrentar este desafio, várias partes interessadas entraram na briga. Notavelmente, o poder executivo, particularmente o Ministério dos Povos Indígenas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), tomaram posição. Além disso, o movimento indígena, com a participação ativa da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), tem desempenhado um papel crucial em diversas esferas.

Ao longo do ano, o movimento indígena empreendeu vigorosas ações de defesa, produziu documentos técnicos e organizou eventos acadêmicos com foco no tema. Notavelmente, houve uma série de debates que culminaram na produção do relatório Prazo – Riscos e Violações de Direitos Associados à Tese do Marco Temporal. Esta análise interdisciplinar, abrangendo direito, economia, antropologia e ciências climáticas, foi conduzida pela APIB e organizações parceiras, com o apoio da Amazon Watch.

É fundamental enfatizar a importância da resistência e da mobilização nas ruas. Além do Free Land Camp em abril, a votação do Marco TemporaA tese levou a APIB a convocar duas grandes mobilizações em Brasília, juntamente com ações em todo o país, abrangendo cidades e territórios indígenas.

Em Setembro, depois de anos de expectativa, o O Supremo Tribunal declarou Prazo tese inconstitucional. Porém, poucos dias depois, o Congresso Nacional aprovou o Projeto de Lei 2903, que não apenas ressuscitou a tese, mas também incluiu diversas outras propostas flagrantemente lesivas aos direitos dos povos indígenas. Acelerado pela poderosa bancada do agronegócio, o projeto foi aprovado e enviado para revisão presidencial. Presidente Lula vetou 47 dispositivos, ainda em 14 de dezembro, deputados e senadores votaram pela derrubada de 41 desses vetos, Incluindo o Prazo provisão. Dentre os vetos mantidos, destacam-se:

  • Sempre que o Estado possa supostamente demonstrar que os povos indígenas já não cumprem os seus costumes, as suas terras podem ser apropriadas pelo governo.
  • A flexibilização da política de não contato com povos indígenas em isolamento voluntário.
  • Autorizar o plantio de culturas transgênicas em territórios indígenas.

Durante seu discurso no Congresso, a deputada Célia Xakriabá enfatizou: “A derrubada desses vetos, tão cruciais, não é apenas uma derrota para o Brasil, mas para toda a humanidade”. Ela ressaltou que sem a demarcação das terras indígenas não há solução para a crise climática. Finalmente, ela encerrou seu poderoso discurso dizendo:

“Não vou me sentir derrotado. Derrotados são aqueles que estão sentados de braços cruzados. Continuaremos lutando pela demarcação das terras indígenas. Porque quem tem território tem para onde voltar, e quem tem para onde voltar tem mãe, colo e cura.”

Os povos indígenas consideram os impactos do Projeto de Lei 2903, hoje Lei 14.701/2023, uma forma de genocídio legislativo. Como ato simbólico e continuação da resistência contínua contra a imposição do Prazo tese, a APIB irá ajuizar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal do Brasil.

Infelizmente, o ano de 2023 encerrará sem a garantia dos direitos territoriais fundamentais dos povos indígenas do Brasil, que por enquanto devem enfrentar a realidade da Marco Temporaeu. Apesar deste cenário desafiador, temos confiança na resistência e resiliência dos povos indígenas do Brasil e de seu movimento, que persistirão em sua luta contra Prazo e seus proponentes no Congresso, buscando recurso na Suprema Corte.

Como declara a APIB; “Derrotados são aqueles que não lutam!” E Amazon Watch continuaremos a apoiar esta luta ao lado dos nossos parceiros.

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