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Na Volta Grande do Xingu, o rio ainda corre. Mesmo com turbinas e licenças o estrangulando, o Xingu perdura porque os povos que o protegem se recusam a desaparecer.
Este trecho do Xingu, no Pará, Brasil, contém um rico mosaico de vida: povos indígenas e centenas de comunidades ribeirinhas convivendo lado a lado – Juruna (Yudjá), Xipaia, Curuaia, Arara da Volta Grande e Xikrin. Todos carregam uma ferida aberta: a hidrelétrica de Belo Monte, que desviou o curso do rio e levou embora peixes, plantações e modos de vida.
Agora, outra ameaça empurra a Volta Grande para mais perto do colapso: o Projeto Volta Grande (VGP). A mineradora canadense Belo Sun planeja construir a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil – um projeto que desconsidera as pessoas que vivem ali.
Junho deste ano, Amazon Watch Viajaram para a Volta Grande do Xingu e visitaram a comunidade Iawá, uma das seis comunidades Xipaia e Curuaia que tradicionalmente ocupam a região das cachoeiras de Jericoá. Apesar das ameaças constantes, essas comunidades continuam afirmando sua identidade como povos tradicionais, denunciando violações no processo de licenciamento da Belo Sun e reivindicando o reconhecimento de seus territórios.
Em Altamira, também conhecemos famílias Juruna e Kayapó, que foram deslocadas de suas ilhas e margens pela barragem de Belo Monte. Elas continuam espalhadas pela cidade, mas continuam sonhando em retornar ao rio que lhes pertence.
A realidade que testemunhamos revela três camadas interconectadas de luta.
Primeiro, povos indígenas como os Juruna e Arara, que vivem em territórios demarcados, lutam por aumento do fluxo de água no Xingu para manter suas aldeias vivas.
Em segundo lugar, comunidades como os Xipaia e Curuaia, de Jericoá, e os Juruna, de Boca do Pacajaí, continuam a viver em suas terras ancestrais, mas não têm reconhecimento oficial. Elas pressionam o governo a proteger seus territórios antes que grileiros e garimpeiros os destruam.
Terceiro, aqueles já deslocados pela barragem de Belo Monte agora enfrentam a ameaça da mineração como uma nova barreira para resgatar sua identidade e sua terra natal. Ainda assim, eles se apegam ao sonho de retornar – e reconstruir – para sempre.
A cada nova iniciativa, a Belo Sun agrava a crise. Por trás de cada promessa de prosperidade, a empresa esconde um prejuízo crescente: ameaças, conflitos de terra, restrições de circulação, barragens de rejeitos perigosas e danos irreversíveis à biodiversidade. Mas, apesar de tudo, a gigante canadense da mineração não conseguiu matar o rio — nem sua população.
É por isso que Amazon Watch está agindo junto com essas comunidades para prevenir esse desastre. Nós:
- Apoiar estratégias legais e análises de especialistas que desafiam o processo de licenciamento profundamente falho da Belo Sun, expondo como ele viola os direitos dos povos indígenas e tradicionais.
- Ampliando as demandas indígenas pelo reconhecimento oficial das terras e pressionando o governo brasileiro a priorizar a demarcação e a proteção na Volta Grande.
- Levando essas vozes aos espaços globais de clima e direitos humanos, incluindo esforços para tornar a Amazônia um item central da agenda na COP30 em Belém.
- Amplificando as vozes das comunidades impactadas pela ameaça de Belo Sun na mídia nacional e internacional.
A Volta Grande continua viva – embora por um fio. Assim como o sonho de ver esta terra formalmente reconhecida como território indígena. Esse sonho ecoa em reuniões comunitárias, cartas a autoridades governamentais e a força silenciosa daqueles que ainda cultivam, pescam e remam ao longo do Xingu.
Enquanto a Amazônia se prepara para sediar a COP30, o mundo precisa ouvir esta mensagem: não se pode matar um rio. Uma floresta vale mais que ouro. E os povos do Xingu não serão silenciados.
Amazon Watch se solidariza com as comunidades da Volta Grande. Agora é a hora de angariar apoio global, exigir a demarcação de terras, barrar a Belo Sun e garantir a livre circulação do Xingu – para todos que dele e com ele vivem.