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Belo Sun Mining busca criminalizar defensores da Amazônia

A ação penal movida pela mineradora de ouro canadense tenta silenciar e intimidar os defensores da Volta Grande do Xingu, incluindo líderes comunitários, Amazon Watche outros ativistas ambientais e de direitos humanos

1º de fevereiro de 2024 | Ana Carolina Alfinito e Paula Vargas | De olho na Amazônia

Crédito: Cícero Pedrosa Neto / Amazon Watch

Em outubro passado, num esforço flagrante para intimidar e silenciar os oponentes às suas operações, a Belo Sun Mineração Ltda. (subsidiária brasileira da canadense Belo Sun Mining Corp.), entrou com uma ação criminal tendo como público-alvo mais de 30 pessoas, a maioria pequenos agricultores, além de líderes comunitários, defensores ambientais, pesquisadores e representantes de organizações brasileiras e internacionais.

Devido à nossa oposição de longa data aos planos da Belo Sun de escavar a maior mina de ouro a céu aberto do Brasil nas margens do Rio Xingu, no Amazonas, a empresa procura criminalizar Amazon Watch, seus parceiros da International Rivers e do Movimento Xingu Vivo, e representantes da comunidade local cujo modo de vida está ameaçado pela mina. 

O Projeto Volta Grande da Belo Sun está atualmente proposto na Volta Grande do Rio Xingu, ou “Grande Curva”. Esta região do estado amazônico do Pará já sofreu enormes impactos com a construção da megabarragem de Belo Monte. Os oponentes da Belo Sun entendem que os planos da empresa destruiriam o que resta de um ecossistema ribeirinho único e extremamente importante, com implicações terríveis para a floresta tropical e para as comunidades locais que dependem do Xingu para o seu bem-estar e meios de subsistência.

Desde 2012, Amazon Watch apoiou a resistência das comunidades indígenas e locais à mina proposta por Belo Sun, destacando os seus múltiplos riscos para a diversidade cultural e biológica da região. Para impedir os planos da empresa estamos coordenando uma aliança internacional para denunciar a Belo Sun, pressionar brasileiros e canadense autoridades para impedir a aprovação do projeto e expor a verdade sobre sua reputação aos investidores. 

Os esforços da empresa para silenciar os seus críticos são a mesma versão do Fato SLAPP estratégia usada por corporações nos EUA e na Europa, com consequências ainda mais assustadoras no Brasil. Amazon Watch não é estranho ser alvo desta forma, e é por isso que fazemos parte do Proteja a Força-Tarefa de Protesto para se unir aos aliados na luta contra o bullying legal. É claro que estas tácticas servem apenas para fortalecer a nossa determinação e a dos nossos aliados. 

A denúncia criminal representa uma tentativa flagrante de dissuadir os defensores ambientais e dos direitos humanos, uma repressão agravada pela presença da segurança armada da empresa no território. Além disso, busca criminalizar organizações que monitoram e denunciam diligentemente a destruição causada por grandes projetos na Volta Grande do Xingu.

No dia 15 de novembro, uma coalizão de 25 movimentos e organizações locais, centrada principalmente em Altamira, Pará, emitiu um comunicado carta aberta condenando veementemente os esforços de criminalização dirigidos aos agricultores, aos movimentos sociais e às organizações da sociedade civil instigados pela Belo Sun. É essencial que os termos desta carta sejam reforçados e ecoados tanto a nível nacional como internacional.

No início de dezembro de 2023, organizações da sociedade civil lançaram um declaração de solidariedade afirmando apoio a movimentos sociais, organizações e defensores de direitos que foram vítimas de tentativas de criminalização por parte da empresa. Organizações, instituições e grupos ainda podem assinar a carta aberta SUA PARTICIPAÇÃO FAZ A DIFERENÇA.

Criminalizando a resistência local 

Os sujeitos da ação da Belo Sun são pessoas físicas que acompanharam, questionaram ou denunciaram a aquisição irregular de parcelas de reforma agrária pela mineradora no âmbito do Projeto de Assentamento Fundiário Ressaca, no município de Senador José Porfírio, no estado do Pará. Eles exigem a devolução dessas terras confiscadas pela empresa aos pequenos agricultores. 

Segundo investigadores independentes, até ao final de 2021, Belo Sun tinha adquirido ilegalmente um total de 3,945 hectares (9,748 acres) de terras públicas, sendo 1,761 hectares dentro do assentamento Ressaca e 1,734 hectares numa área contígua ao assentamento. É importante ressaltar que a aquisição de terrenos de reforma agrária por empresas é ilegal no Brasil. E mesmo que fosse legal, a obtenção de um terreno tão extenso também exigiria, conforme a Constituição brasileira, aprovação prévia do Congresso Nacional. 

Em novembro de 2021, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), desconsiderando essas infrações legais e sem iniciar um processo de participação coletiva com agricultores e comunidades locais, celebrou contrato que concedeu à Belo Sun o uso de 1,439 hectares dentro do assentamento Ressaca e 989 hectares no assentamento Ituna Gleba.

Esses fatos servem de base para uma ação movida na Justiça Federal pelas Defensorias Públicas federal e estadual no início de 2023. A ação visa anular o negócio de terras por meio do qual a Belo Sun adquiriu essas terras do INCRA. Até o momento, ainda não recebeu uma decisão.

Reconhecendo a natureza ilegal desta situação e temendo a potencial perda de terras devido à inacção das autoridades públicas, um grupo de famílias de agricultores decidiu formar o seu próprio movimento. O objetivo deste movimento é reocupar de forma legal e pacífica as áreas que foram concedidas irregularmente a Belo Sun dentro do assentamento Ressaca. 

Tanto a ocupação, ocorrida em 5 de junho de 2022, como a posterior instalação de um acampamento nos terrenos disputados, constituem uma forma de protesto político. Seu objetivo principal é evidenciar a ilegalidade das transações entre o INCRA e Belo Sun e exigir a devolução dos lotes à finalidade pretendida de servir à reforma agrária, como é o seu uso legítimo.  

Este não é o primeiro caso de Belo Sun tentando intimidar organizações da sociedade civil e defensores dos direitos humanos. Em 2022, a empresa ajuizou ação contra um professor universitário que expôs os riscos do Projeto Volta Grande ao Rio Xingu e sua população. Em meados de 2023, a Belo Sun emitiu uma notificação extrajudicial à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), tentando reprimir as denúncias da organização sobre os riscos associados ao projeto de mineração na Volta Grande do Xingu. 

Este aviso veio logo após o lançamento de um Denunciar sobre Belo Sun pela equipe jurídica da APIB, incorporando dados de Amazon Watchavaliação anterior intitulada ”Riscos de investir na Belo Sun”, lançado em 2022 durante a Conferência da ONU sobre Biodiversidade (COP 15) em Montreal. Além disso, houve um ação de defesa internacional na ONU em Genebra orquestrada por Amazon Watch, aliados internacionais e parceiros indígenas, incluindo a APIB. Este evento revelou novos dados sobre as violações dos direitos humanos e ambientais da Belo Sun, lançando luz sobre abusos corporativos por empresas canadenses não apenas na Amazônia brasileira, mas também em outros oito países da América Latina e do Caribe.

Antecedentes da atuação da Belo Sun na Volta Grande do Xingu

Belo Sun pretende estabelecer um enorme projeto de mineração de ouro a céu aberto que se sobrepõe ao assentamento Ressaca, situado às margens do Rio Xingu. Se aprovado, este projeto impactaria de forma significativa e potencialmente irreversível um território já severamente afetado pela megabarragem de Belo Monte, afetando negativamente as terras e os modos de vida tradicionais de vários povos indígenas, assentamentos rurais e comunidades ribeirinhas desta região.

Diversas ações judiciais foram ajuizadas, documentando meticulosamente as múltiplas irregularidades cometidas pela Belo Sun. Estes incluem a ausência de consulta e consentimento livre, prévio e informado (CLPI) das comunidades indígenas e tradicionais afetadas, a aquisição ilegal de lotes dentro do assentamento Ressaca, o assédio e a violação do direito à livre circulação e acesso ao território de comunidades locais e a falta de autoridade legal do estado do Pará para emitir a licença ambiental para o projeto Volta Grande. O processo de licenciamento está suspenso desde 2017 por decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Em 11 de setembro de 2023, foi transferido para a jurisdição do IBAMA, órgão ambiental federal brasileiro. 

Amazon WatchO consultor jurídico e o consultor de campanha de têm estado activamente envolvidos em múltiplas frentes, fornecendo apoio técnico às comunidades, trabalhando em advocacia e estratégias e campanhas jurídicas, apoiando o trabalho dos defensores públicos e procuradores, e defendendo os direitos dos defensores do Volta. Grande do Xingu. Estamos mobilizando comunidades nacionais e internacionais para se juntarem ao esforço #StopBeloSun e manterem #MiningOut dos Territórios Indígenas e da Amazônia.

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