Por que o resultado das eleições no Brasil pode ser uma má notícia para o clima | Amazon Watch
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Por que o resultado das eleições brasileiras pode ser uma má notícia para o clima

31 de outubro de 2014 | Joaquim Moreira Salles | ThinkProgress

A presidente brasileira Dilma Rousseff foi reeleita no último domingo no que acabou sendo a eleição mais apertada da história do país. O titular conquistou 51.64 por cento do voto popular, derrotando o candidato de centro-direita Aécio Neves do PSDB e mantendo o PT (Partido dos Trabalhadores) por 12 anos no cargo mais alto. Apesar da vitória, o atual governo vem sendo criticado por um grande contingente de Ambientalistas e economistas por adotar uma abordagem míope para o desenvolvimento econômico, muitas vezes negligenciando as principais preocupações ambientais em prol de projetos de infraestrutura em grande escala.

O Brasil é um jogador-chave no debate ambiental global porque detém 12 por cento da água doce do mundo e cerca de um terço de suas florestas tropicais restantes. Também foi capaz de crescer exponencialmente durante a primeira década do século 21 de uma maneira um tanto sustentável. O mesmo não poderia ser dito nos últimos quatro anos. Dilma não apresentou propostas concretas de política ambiental durante a campanha deste ano, e isso sinaliza sinais de alerta ao avaliar qual será o legado ambiental de seu segundo mandato.

O relacionamento abrasivo da presidente com os ambientalistas remonta à administração de seu antecessor. Ela serviu como a ministra-chefe do último presidente - uma espécie de equivalente a primeira-ministra e o segundo cargo mais alto na política brasileira. Sua gestão no cargo marcou um período em que a maioria dos grandes projetos de infraestrutura foram aprovados e seus processos de licenciamento acelerado. Como resultado, Dilma promoveu uma relação hostil com os interesses ambientais durante sua gestão como ministra-chefe. Sua falta de consideração pelas preocupações ambientais cresceu tanto que Marina Silva, que chefiava o Ministério do Meio Ambiente na época, resignado em protesto. Silva, um ex-ativista ambiental da Amazônia, concorreu contra Rousseff nas eleições deste ano. Em um ponto previsto para vencer tudo, ela colocou um terceiro abaixo do esperado e jogou seu apoio atrás de Aécio Neves no segundo turno.

Foi com essa dinâmica antagônica com os ambientalistas que Dilma lançou sua campanha presidencial em 2010, mas adotou um tom conciliador. Na campanha eleitoral, Dilma Rousseff freqüentemente destacou um compromisso com o desenvolvimento sustentável e uma política de “tolerância zero” para o desmatamento, em uma tentativa um tanto bem-sucedida de cortejar os eleitores jovens e os ambientalistas. Desde que assumiu o cargo, no entanto, ela seguiu amplamente uma política de desenvolvimento a todo custo, luz verde polêmicos projetos de infraestrutura de alto custo ambiental, sem ênfase energias renováveis como eólica e solar em favor de formas mais sujas de energia, e supervisionando os primeiros aumentos no desmatamento na Amazônia desde 2006.

Logo após a posse, o novo governo autorizou a construção da polêmica barragem de Belo Monte, projeto que existia no papel desde a década de 1980. A barragem será a terceira maior do mundo e atualmente está em construção no coração da bacia amazônica. Ao mesmo tempo, Dilma divulgou uma reforma que acelerada o processo de licenciamento ambiental para obras de grande porte em todo o país.

A Barragem de belo monte inundará 1,500 quilômetros quadrados de floresta tropical, uma área maior que a cidade de Nova York, e deslocará 40,000 indígenas. Embora tecnicamente energia limpa, há muito disputa sobre a viabilidade econômica, social e ambiental da barragem. Sua construção terá um pegada de carbono significativa, mas a própria barragem só funcionará em 40% da capacidade durante grande parte do ano. o volume de poder produzido pela barragem será vendido a taxas subsidiadas para indústrias intensivas em energia, como fundição de alumínio. O canalização de energia para as indústrias da região provavelmente promoverá seu crescimento e, portanto, mais desmatamento. O projeto tem estado atolado em disputas legais desde o seu início, com instituições independentes e públicas que emitiram vários relatórios conflitantes sobre os impactos ambientais e sociais da barragem. Uma decisão do tribunal superior brasileiro este abril identificou grandes irregularidades no último relatório de avaliação de impacto ambiental do projeto, ameaçando interromper a construção pela sexta vez em quatro anos.

Rousseff está acoplando sua estratégia de expansão da energia hidrelétrica na Amazônia com uma dependência maior de combustíveis fósseis. Do brasil plano de energia de dez anos canaliza 70% de seu orçamento para combustíveis fósseis (grande parte para perfuração offshore) e apenas 9.2% para energias renováveis, com a energia hídrica ambientalmente questionável compondo a maior parte do orçamento renovável.

Projetos como Belo Monte são típicos da estratégia de desenvolvimento de Dilma. Muitos outros projetos de infraestrutura de grande escala, de alto impacto ambiental e utilidade duvidosa estão em andamento, como o desvio do Rio São Francisco e a construção de um Ferrovia Leste-Oeste que cortará trechos da ameaçada Mata Atlântica.

Em 2012, Rousseff sancionou a lei a revisão do código florestal brasileiro, a principal lei que rege a conservação e o manejo florestal no país. A revisão vinha sendo promovida por interesses do agronegócio no congresso há anos e a presidente havia prometido se opor a ela quando se candidatar ao cargo em 2010. Ela vetou algumas das cláusulas mais ofensivas da lei, mas a maior parte foi deixada intacta. O novo código acaba com muitas medidas significativas de proteção florestal e isenta os culpados de desmatamento ilegal de multas ou da obrigação de reflorestar.

Quando o novo código se tornou lei em 2012, Greenpeace emitiu uma resposta contundente que foi ecoada por ambientalistas em todo o mundo: “Este é o último golpe para a Amazônia de um governo que está sistematicamente desmantelando as medidas de proteção ambiental do Brasil”, diz o comunicado.

Na época, dez ex-ministros do meio ambiente se reuniram em um carta aberta ao presidente para expressar sua oposição à nova lei. No ano seguinte, o desmatamento na Amazônia aumentou pela primeira vez desde 2006. Em agosto e setembro deste ano houve um Pico de 190 por cento no desmatamento quando comparado ao mesmo período do ano passado. Além disso, Rousseff recentemente se recusou a se juntar a 30 países, incluindo os Estados Unidos, na assinatura de um promessa de acabar com o desmatamento que foi apresentado na Cúpula do Clima da ONU em setembro. A tendência de queda do desmatamento na Amazônia que foi observada durante a maior parte do século 21 está sendo revertida. O compromisso de “tolerância zero” assumido por Dilma Rousseff em 2010 parece ter sido esquecido.

Ambientalistas e funcionários do Partido Verde - alguns dos quais apoiaram Rousseff durante sua disputa conciliatória ao cargo em 2010 - por unanimidade apoiou seu oponente na eleição deste ano. Qualquer credibilidade que Rousseff pudesse ter sobre o tema do desenvolvimento sustentável foi perdida.

“Em termos de meio ambiente, este tem sido o pior governo da história do Brasil”, afirmou. Mário Mantovani, disse um importante lobista ambiental no Congresso brasileiro ao jornal Folha de São Paulo. Não há sinais de que o segundo semestre do governo Dilma Rousseff será muito melhor.

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