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Grande mobilização brasileira exige direitos às terras indígenas diante de ameaças crescentes

O Acampamento Terra Livre Indígena se esforça para defender os direitos constitucionais em apuros, ao mesmo tempo em que luta contra graves ameaças dos setores do agronegócio e da mineração

25 de abril de 2024 | Para divulgação imediata


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Crédito: Felipe Beltrame

Fotos da marcha de hoje estão disponíveis mediante solicitação

Brasília, Brasil - Milhares de líderes e representantes indígenas e seus aliados convergiram para a capital do Brasil esta semana para o 20º Acampamento Terra Livre (Acampamento Terra Livre – ATL), uma grande mobilização anual para avançar a luta pelos direitos indígenas à demarcação e soberania de terras. Organizado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), o encontro deste ano tem como título “Nossa Existência é Ancestral: Sempre Estivemos Aqui!” para combater as virulentas narrativas anti-indígenas que sustentam os ataques em espiral travados principalmente pelos interesses do agronegócio e da mineração no Congresso do Brasil. 

A marcha de hoje pela Esplanada dos Ministérios de Brasília mostrou a força do movimento indígena do país e se concentrou nas ameaças emblemáticas do atual ataque aos direitos constitucionais à terra. Para simbolizar essas ameaças, um grande veículo intitulado “Trilhas de Destruição” exibiu condutores de violações de direitos humanos e devastação ambiental, desde os esforços do agronegócio para cortar a Ferrogrão mega-ferrovia através do coração da floresta amazônica até o esforço incansável para abrir as terras indígenas para mineração industrial. A ação também denunciou o flagelo do garimpo ilegal em terras indígenas, que continua florescendo apesar dos esforços federais para reprimir a atividade. 

“Ferrogrão é o trem da morte, do desmatamento”, disse Alessandra Korap Munduruku, ganhadora do Prêmio Goldman. “A ferrovia não vai transportar pessoas, como afirmam, mas sim a produção de grãos das empresas internacionais que financiam esse projeto. É um projeto que afetará não só os povos indígenas, mas também as comunidades tradicionais e as pessoas que vivem nas cidades ao longo do seu percurso. Além disso, é um projeto que afetará pessoas em todo o mundo porque agravaria as alterações climáticas com a desflorestação massiva que causaria.”

“Desde o início da Ferrogrão, as audiências só foram realizadas nas cidades e nenhuma nas aldeias indígenas”, disse Kleber Karipuna, Coordenador Executivo da APIB. “Mais uma vez exigimos que os protocolos de consulta aos povos indígenas sejam respeitados. Além disso, a ausência de um protocolo de consulta não deve ser usada como desculpa para negar a consulta às pessoas afetadas pelo projeto.”

“O mero anúncio da Ferrogrão aumentou o desmatamento em torno de nossas terras indígenas”, disse Doto Takak Ire, presidente do Instituto Kabu do povo Kayapó. “A grilagem de terras aumentou, os riscos de invasão de terras aumentaram e fomos obrigados a aumentar o monitoramento dos nossos territórios. O cultivo da soja invadiu os limites da Terra Indígena Menkragnoti. Suja os rios que passam pelas nossas aldeias. Já podemos ver tudo isso. E a Ferrogrão só vai piorar.” 

“Ferrogrão representa a morte de quilômetros e quilômetros de floresta”, disse Takakpe Tapayuna Metuktire, do Instituto Raoni. “Embora devêssemos pensar em como preservar o que resta e pensar em projetos alternativos de infraestrutura que respeitem nossos direitos, a natureza e os povos indígenas e tradicionais. Estamos lutando para evitar que mais um projeto de morte e destruição prevaleça na Amazônia. Com a Ferrogrão só vai sobrar terra arrasada.”

A marcha de encerramento do Acampamento Terra Livre priorizou o Ferrogrão e a mineração em terras nativas devido à centralidade desses fios para os direitos às terras indígenas e aos ecossistemas sustentados pelos defensores das terras indígenas. Ferrogrão impactaria pelo menos 16 terras indígenas e 104 assentamentos rurais, ameaçando 4.9 milhões de hectares de áreas protegidas. Enquanto isso, o setor de mineração brasileiro projeta um novo boom mineral na Amazônia e busca abertamente prospectar terras indígenas.

“Por meio da poderosa ação e protesto de hoje, o movimento indígena do Brasil denunciou os rastros de destruição deixados por garimpeiros ilegais, interesses minerários multinacionais e empresas do agronegócio na Amazônia e em territórios indígenas”, disse Paula Vargas, Amazon Watch Diretor do Programa Brasil. “Essas empresas e seus apoiadores políticos devem ser detidos e responsabilizados, e as autoridades brasileiras devem defender os direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais.”

Notavelmente ausente do ATL deste ano estava o presidente Lula, que havia participado das duas mobilizações anteriores. A APIB criticou o fracasso do seu governo em cumprir a promessa de campanha de demarcar rapidamente as terras indígenas, bem como a sua fraca resposta aos ataques do Congresso aos direitos indígenas. O anúncio de Lula o fato de seu governo titularizar apenas 10 dos 14 territórios indígenas prometidos também gerou denúncias do movimento indígena brasileiro. No entanto, apesar de sua ausência na mobilização, Lula recebeu hoje um grupo de líderes no palácio presidencial.

A mobilização do ATL ocorre num contexto dos mais graves retrocessos políticos aos direitos indígenas desde a ratificação da constituição do Brasil em 1988. A aprovação da Lei Federal 14,701 no ano passado, que consagrou o “Marco Temporal” (tese do limite de tempo) em lei, após anular a decisão do presidente Lula vetos parciais à legislação, congelou efetivamente as demarcações de terras indígenas, ao mesmo tempo que abriu territórios federais à atividade industrial, o que poderia potencialmente incluir projetos de mineração e agronegócio. 

Embora a base constitucional do Marco Temporal tenha sido redondamente rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, esta semana o ministro do STF Gilmar Mendes sinalizou que o tribunal não se pronunciaria sobre a constitucionalidade da Lei 14,701, abrindo a possibilidade de negociar os direitos fundamentais dos indígenas em uma grande revés para o movimento indígena do país.

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