Brasília- A administração Lula do Brasil enfrenta críticas crescentes do movimento indígena do país, uma vez que não cumpre as suas promessas de salvaguardar os direitos às terras indígenas, sinalizando um retrocesso preocupante no seu compromisso de titular territórios indígenas.
Apesar das promessas de cumprir a demarcação de 14 terras indígenas nos primeiros 100 dias de seu mandato, o anúncio de ontem de titular apenas dois territórios significou que apenas 10 receberam proteções federais críticas durante os 474 dias de seu governo, enquanto outros 26 processos definham no fases finais de aprovação governamental. A medida deixa dezenas de comunidades indígenas vulneráveis a crescentes invasões de terras, violência e exploração ambiental.
“É revoltante para nós, povos indígenas, termos tanta fé nos compromissos do governo com os nossos direitos e com a demarcação dos nossos territórios. O Ministério dos Povos Indígenas tentou fazer avançar os nossos direitos, mas o Congresso bloqueou esses esforços”, disse a vencedora do Prémio Goldman, Alessandra Korap Munduruku. “Ouvimos todas essas discussões sobre proteção ambiental e climática, mas sem apoio aos povos indígenas que estão na linha de frente, sofrendo graves ataques e ameaças. Lula não pode falar em combater as mudanças climáticas sem cumprir o seu dever de demarcar nossas terras”.
O anúncio do presidente Lula ocorreu às vésperas da Acampamento Terra Livre (Free Land Camp), um importante encontro anual do movimento indígena do país. Citando críticas crescentes à forma como o seu governo lida com os direitos indígenas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) rescindiu o seu convite para o evento, sublinhando o crescente descontentamento dentro do movimento sobre o fracasso da administração em abordar adequadamente os cada vez mais contestados direitos às terras indígenas no país.
Os críticos dizem que a contínua negligência do governo em relação aos processos críticos de demarcação mina a credibilidade do Brasil como líder climático global. A falha em proteger os territórios indígenas não só viola a constituição do Brasil, mas também representa riscos significativos para a biodiversidade e agrava o desmatamento, contribuindo para as mudanças climáticas globais.
Em outra medida preocupante que foi veementemente denunciada pelos povos indígenas e seus aliados, na segunda-feira no estado de Mato Grosso do Sul, onde o povo Guarani Kaiowá há muito luta para recuperar suas terras ancestrais, Lula propôs comprar uma fazenda para a comunidade em vez de defender o direito dos Guarani Kaiowa à demarcação de terras. A medida é vista não apenas como um enfraquecimento da soberania dos territórios indígenas, mas também como uma perpetuação de um ciclo de mercantilização da terra que desconsidera a autonomia e a herança cultural indígenas.
“Hoje existem centenas de Terras Indígenas que aguardam o reconhecimento formal do Estado. O presidente Lula havia anunciado que seu governo concluiria o reconhecimento de seis deles, número que já era insuficiente dada a dimensão do problema, mas o movimento indígena apoiou o gesto, dada a urgência absoluta de avançar nas demarcações”, disse Ana. Alfinto, consultor jurídico da Amazon Watch. “O anúncio de ontem enterrou as esperanças de que o governo Lula tenha alguma força real frente à postura antiindígena do agronegócio. Há um alto nível de frustração e revolta no movimento. Na próxima semana terá início o Acampamento Terra Livre e a expectativa é de que milhares de indígenas venham a Brasília. Lula perdeu uma oportunidade inestimável de avançar na demarcação e alavancar o apoio ao movimento indígena, ao movimento ambientalista e aos setores progressistas da sociedade brasileira e internacional.”