Terras Indígenas do Brasil em jogo antes da decisão do Marco Temporal | Amazon Watch
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Terras Indígenas do Brasil em jogo: potencial benefício do Marco Temporal para titãs da mineração

Em meio a uma decisão iminente da Suprema Corte, nosso último relatório analisa os riscos desta tese jurídica, potencialmente comprometendo os territórios indígenas em benefício de poderosas empresas de mineração

18 de setembro de 2023 | Ana Carolina Alfinito, Camila Rossi e Gabriela Sarmet | De olho na Amazônia

Crédito: João Edson Alves/Agência Brasil

A Prazo ou “Limite de Tempo”, o julgamento de teses jurídicas, definido para moldar o futuro da demarcação de terras indígenas no Brasil, será retomado pela Suprema Corte do Brasil em 20 de setembro. A tese restringiria os direitos dos povos indígenas às terras que ocuparam ou reivindicaram antes de 5 de outubro. , 1988, quando foi promulgada a Constituição brasileira. A sua decisão aplicar-se-á imediatamente a 217 processos judiciais pendentes nos tribunais e, em caso de aprovação da tese, poderá também habilitar projetos de mineração em pelo menos 77 territórios não ratificados, de acordo com um recente relatório do organização Eko

A análise destaca um fato alarmante: dos 120 territórios indígenas que aguardam a chamada demarcação, ou reconhecimento governamental, 77 estão de olho em 736 pedidos de mineração registrados na Agência Nacional de Mineração do Brasil. Apenas deixe esse número penetrar por um momento.

Estamos à beira de uma decisão que terá um impacto significativo nas terras dos povos indígenas, nas suas vidas e no nosso futuro coletivo. Se aprovado, não será apenas uma vitória para magnatas da mineração como Vale e Anglo American. É uma perda irreversível para os direitos indígenas, para a floresta amazônica e para 77 territórios indígenas ainda não reconhecidos.

Se promulgado o Prazo tese apagará a história de violência e deslocamento sofrido por grupos indígenas e bloqueará os meios legais de reparação. Também colocará em risco todos os territórios já reconhecidos, uma vez que os processos de demarcação seriam reabertos e seriam feitas exigências para comprovar a presença indígena em 1988. E isso não afeta apenas as reivindicações de terras; tem consequências diretas nas próprias vidas e na identidade cultural dessas comunidades indígenas.

O poder político e económico desproporcional exercido pelas empresas mineiras é perturbador. O seu envolvimento neste debate contrasta fortemente com os direitos dos povos originários. Isto é muito mais do que uma batalha entre David e Golias.

Vejamos, por exemplo, os territórios das Terras Indígenas Sawré Ba'pim e Sawré Muybu, habitadas pelo povo Munduruku. Estas terras não são procuradas apenas pelas suas ricas reservas minerais, mas também apresentam as cicatrizes das actividades mineiras ilegais. Os Munduruku resolveram o problema por conta própria em 2016, quando, dada a demora do governo em proteger os seus direitos à terra, começaram a marcar os limites dos seus próprios territórios e a defender-se contra invasores ilegais.

A "homem do buraco”A história é outro exemplo comovente. Ele foi o último indígena isolado sobrevivente de seu povo, etnia não identificada massacrada na década de 1990 e que vivia sozinho na Terra Indígena Tanaru, no estado de Rondônia. A gigante da mineração Vale tem solicitações ativas de mineração nessas terras. 

Outro exemplo é a mineradora canadense Potássio do Brasil, que, desde 2008, tenta implementar um projeto mineiro que afeta diretamente os territórios do povo Mura. Relatos contraditórios e informações enganosas continuam a minimizar o impacto do projeto nos territórios indígenas, fazendo-nos questionar: quem é beneficiado aqui?

Territórios indígenas como as Terras Indígenas Piripkura e Ituna-Itatá, que abrigam comunidades indígenas isoladas, também estão na mira de conglomerados de mineração e pecuaristas. Seus direitos, vidas e futuros estão em jogo.

A mineração em terras indígenas é atualmente ilegal no Brasil e os impactos do desmatamento nesses territórios seriam devastadores. 

Em resposta ao debate crítico em torno dos impactos da Prazo tese, Amazon Watch colaborou com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil(APIB), o Centro de Justiça e Direito Racial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Comissão Arns e o Instituto Clima e Sociedade (ICS) na publicação de um relatório intitulado, Riscos e violações de direitos associados à tese do Marco Temporal: uma análise interdisciplinar a partir do direito, da economia, da antropologia e da ciência do clima.

O relatório sublinha as significativas repercussões económicas que o Prazo imporá à região amazônica. Este quadro jurídico amplifica a insegurança fundiária e estimula a apropriação de terras, dissuadindo investidores genuínos. A região requer um planejamento territorial eficaz e uma governança robusta, que garanta a conservação ambiental e caminhos para o desenvolvimento sustentável para os residentes da Amazônia e para o Brasil como um todo, em vez de áreas desmatadas adicionais para a agricultura.

Os territórios indígenas são pilares da prevenção do desmatamento, da conservação da biodiversidade e provedores de inúmeros serviços ecossistêmicos para o Brasil e o mundo. O ciclo de chuvas da Amazônia, a qualidade do ar e a resiliência das espécies contra as mudanças climáticas são testemunhos da profunda relação que as comunidades indígenas compartilham com suas terras ancestrais. Políticas que colocam em risco esses direitos à terra, consagrados na Constituição brasileira e em tratados internacionais, colocam em risco a habitabilidade do planeta.

Além disso, estas terras constituem um dos últimos baluartes contra as alterações climáticas. Os territórios indígenas da Amazônia sequestram grandes quantidades de gases de efeito estufa, desempenhando um papel fundamental nos padrões regionais e globais de temperatura e precipitação. As soluções para combater as mudanças climáticas globais exigem a preservação da floresta amazônica e o reconhecimento e a proteção dos direitos dos povos indígenas que nela residem.

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