A Potássio do Brasil, subsidiária brasileira da mineradora canadense Brazil Potash, exposta no relatório Cumplicidade na Destruição III, foi multado em US$ 20,000 (R$ 100,000) por um tribunal federal brasileiro por se recusar a remover placas de identificação da aldeia Soares, lar do povo indígena Mura, em Autazes, Amazonas. As placas impugnadas afirmam que a área pertence à Potássio do Brasil, quando na verdade é uma terra indígena, não podendo, portanto, ocorrer garimpo nela. A empresa também será multada em US$ 10,000 mil (R$ 50,000 mil) por dia em caso de descumprimento.
Este é um passo significativo em direção à responsabilização da comunidade e do movimento para proteger os territórios indígenas livres de mineração. Essas vitórias se devem à organização popular dos Mura e à pressão internacional apoiada pela pesquisa conjunta liderada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e Amazon Watch através da nossa Cumplicidade na Destruição série.
O grande projeto da Potássio do Brasil, que envolve a extração e processamento de potássio em Autazes e transporte por rios e estradas, preocupa os ambientalistas. O potássio é um dos minerais essenciais para a indústria de fertilizantes, amplamente utilizado para aumentar a produtividade agrícola. A exploração ocorre em uma região ecologicamente diversa e sensível. Os críticos argumentam que a mina, como outras na Amazônia, pode levar ao desmatamento e à contaminação dos rios, ameaçando a sobrevivência do povo Mura, que vive da caça, pesca e agricultura de subsistência.
Em fevereiro de 2023, os Mura tentaram retirar as placas instaladas pela Potássio do Brasil na aldeia Soares, mas foram detidos pela polícia de Autazes, que atuou a pedido da empresa. A polícia também fez ameaças. A multa aplicada pela Justiça Federal brasileira diz respeito não apenas às placas, mas também à conduta abusiva da empresa contra os Mura por meio da polícia local e por violação de seu território.
Em março, com o apoio Amazon Watch, lideranças Mura viajaram a Brasília para se encontrarem com a presidente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Joenia Wapichana, que afirmou que a instituição retomará processos de demarcação paralisados que envolvem titulação de terras e reconhecimento formal governamental de territórios indígenas. Wapichana disse: “Estamos empenhados em rever os processos de demarcação paralisados e a posição da FUNAI nas decisões judiciais. No governo Lula, a FUNAI volta a priorizar a defesa dos direitos indígenas”.
Os Mura buscam resolver a paralisação da demarcação de terras em que se encontram. A demarcação da aldeia de Soares é urgentemente necessária para impedir operações mineiras para extracção de potássio no seu território. Na última semana de março, a FUNAI visitou a aldeia e coletou informações para melhor informar as comunidades sobre o processo de demarcação.
A Potássio do Brasil é um exemplo de como as mineradoras violam os direitos indígenas antes mesmo do início de suas operações. Suas ações aumentam intencionalmente a pressão e o conflito nas comunidades locais.
Graças a Amazon Watch apoiadores, pudemos auxiliar o povo Mura em sua viagem a Brasília para encontro com a FUNAI, fornecendo apoio logístico, preparação técnica e financiamento para a viagem, que tinha como objetivo exigir que a FUNAI retomasse a demarcação de suas terras.