Em resposta às crescentes ameaças às terras indígenas, Amazon Watch e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) lançaram em conjunto o Cumplicidade na Destruição IV relatório em fevereiro de 2022. O relatório visa combater o Projeto de Lei 191/2020 e quaisquer tentativas de prejudicar os direitos dos povos indígenas às suas terras e autodeterminação, destacando as atividades de mineradoras como Vale, Anglo American, Belo Sun, Potássio do Brasil , Mineração Taboca/Mamoré Mineração e Metalurgia (ambas empresas do Grupo Minsur), Glencore, AngloGold Ashanti e Rio Tinto. Trabalhando com a APIB, o objetivo era expor essas empresas e pressioná-las a assumir compromissos tangíveis para proteger os territórios indígenas.
No dia 13 de fevereiro, a APIB apresentou petição ao Ministério dos Povos Indígenas, solicitando a retirada e arquivamento do Projeto de Lei (PL) 191/2020 de pauta. O projeto de lei, que visa regulamentar a exploração mineral em terras indígenas, tramitava na Câmara dos Deputados. A coordenadora-executiva da APIB, Dinamam Tuxá, cita a tragédia do povo Yanomami como prova dos possíveis danos que o PL 191/2020 pode causar.
Em 31 de março, o presidente do Brasil, Lula da Silva, instou o Congresso a retirar o projeto da agenda. Proposto inicialmente pelo ex-presidente Bolsonaro em 2020, o projeto simboliza a política antiindígena de seu governo. Lideranças e organizações indígenas em todo o país denunciaram a iniciativa desde o início do processo, e nós da Amazon Watch repetidamente sublinharam a sua inconstitucionalidade.
O pedido de retirada coincide com uma emergência de saúde na Terra Indígena Yanomami, onde o garimpo ilegal desencadeou uma crise humanitária. A mineração tem impactado comunidades historicamente, por exemplo, a era da ditadura militar brasileira viu grandes projetos de mineração, muitas vezes acompanhados de genocídio contra os povos indígenas.
“Esperamos que o Congresso Nacional cumpra seu dever de legislar pelo equilíbrio ambiental, pelo bem-estar social dos brasileiros e pelo respeito aos modos de vida dos povos indígenas. Esperamos que o Congresso respeite o pedido do presidente Lula”, afirmou a Ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara.
A APIB afirma que o projeto de lei infringe o direito constitucional dos povos indígenas ao uso exclusivo de suas terras. Juristas e o Ministério Público Federal (MPF) também identificaram a inconstitucionalidade do projeto.
O PL 191/2020 serve como carta branca para outros projetos de grande escala em terras indígenas além da exploração mineral. Ele aumentaria significativamente os riscos à vida, ao meio ambiente, à saúde e à violência contra os povos indígenas, se aprovado.
O projeto de lei pode levar à construção de usinas hidrelétricas e pesquisas de mineração em terras indígenas não homologadas ou não reconhecidas pelo governo sem consulta prévia aos habitantes indígenas – uma violação da constituição do Brasil e de compromissos internacionais, como a Convenção 169 da OIT.
O PL 191/2020 foi prioridade do governo Bolsonaro no legislativo. Em meio ao conflito na Ucrânia e o consequente declínio no fornecimento de fertilizantes agrícolas da Rússia, a pressão pela aprovação do projeto aumentou. O lobby do agronegócio, ruralistas, via a abertura de novas mineradoras como forma de garantir a produção nacional de insumos vitais para o agronegócio.
Em parceria com essas organizações, as persistentes campanhas de pressão levaram a um grande avanço quando a mineradora britânica Anglo American finalmente atendeu às demandas dos povos indígenas e assumiu Ação decisiva. Eles retiraram 27 autorizações de pesquisa de mineração destinadas a invadir terras indígenas no Brasil, incluindo o território Munduruku de Sawré Muybu.