Juiz do Supremo Tribunal Federal permite avanço da polêmica Ferrovia da Soja | Amazon Watch
Amazon Watch

Juiz do Supremo Tribunal Federal permite análise da polêmica ferrovia da soja que ameaça a floresta amazônica e impacta severamente terras indígenas 

6 de junho de 2023 | Camila Rossi e Ana Carolina Alfinito | De olho na Amazônia

Caiapó durante protesto em agosto de 2020 que interditou a BR-163 para reivindicar o direito à consulta na ferrovia da soja. Crédito: Tommaso Protti / Amazônia Real.

Suspensa por dois anos por liminar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a polêmica Ferrogrão A megaferrovia, um desastroso projeto de infraestrutura proposto para a Amazônia, é agora uma ameaça renovada.

Em 31 de maio de 2023, de Moraes autorizado análise de estudos e processos administrativos relacionados à implantação da ferrovia a ser retomada. A ferrovia é considerada um dos projetos mais antiambientais considerados pelo governo Lula de Silva e já foi apelidada de “nova Belo Monte”. Com apoio de Amazon Watch, uma delegação de líderes e representantes Munduruku viajou a Brasília para assistir à decisão do STF para expressar sua oposição, protestar contra a Ferrogrãoe defender seus direitos constitucionais. 

Apesar de reabrir os estudos do projeto, o ministro do STF manteve a suspensão de uma alarmante lei que reduziria a área do Parque Nacional do Jamanxim para permitir a construção de ferrovias. A decisão foi anunciada em meio a uma série de ataques aos direitos indígenas no Brasil, pela Câmara dos Deputados como eles avançaram Bill 490 que legalizaria o roubo de terras.

“A ferrovia pode ser o fim da linha para a Amazônia”, afirmou Alessandra Munduruku e Cacique Juarez Serra num artigo recente para Uma Gota No Oceano. “Seus 993 km de trilha abririam caminho para todo tipo de invasores, como grileiros, traficantes, garimpeiros e madeireiros, que trariam mais insegurança e violência para quem mora na floresta. Se construído, Ferrogrão trará a necessidade de novos portos, hidrovias e rodovias, infraestrutura que demanda mais energia. [Seria] a desculpa perfeita para empurrar a hidrelétrica de São Luiz no Tapajós, o último afluente da margem direita do Amazonas sem barragens.”

Com custo estimado de US$ 3.7 bilhões (R$ 20 bilhões) e extensão de 933 quilômetros, o projeto transportaria soja e milho principalmente do estado de Mato Grosso, uma das regiões agrícolas mais produtivas do país, pelo chamado Arco Norte da Amazônia – uma área que já sofre forte pressão de desmatamento – até o porto de Miritituba, no rio Tapajós, no Pará estado. A construção da ferrovia representa também a redução de 464 hectares do Parque Nacional do Jamanxim e pode levar à destruição de mais do que 200,000 hectares de floresta primária. 

Prioridade máxima na carteira de infraestrutura do Ministério dos Transportes de Lula da Silva, o projeto também afetaria terras indígenas, ameaçando uma convulsão socioambiental em uma região já delicada. Lideranças indígenas de territórios ameaçados pelo megaprojeto reivindicam o direito de serem consultadas e prometem lutar por compensações pelos impactos já sentidos em seus territórios muito antes de o projeto sair do papel.

Dotô Takak-Ire, liderança indígena Kayapó Mekrãgnoti e coordenadora do Instituto Kabu, enfatizou que uma das marcas do Ferrogrão processo tem sido a falta de diálogo da administração pública com os povos indígenas. “Não somos contra o desenvolvimento. Mas o governo deve seguir a lei”, compartilhou ele em um entrevista com Mongabay. “Como mencionei durante a audiência [realizada em dezembro na Câmara dos Deputados], caso os ministros do STF decidam adiantar o Ferrogrão processo, vamos lutar. Podemos ter que estabelecer uma aldeia no caminho do trem. Depois quero ver se eles vão nos atropelar”, alertou.

Dotô Takak-Ire acrescentou que as reivindicações indígenas têm se concentrado no direito à consulta, garantido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, nos casos em que projetos como o Ferrogrão impactariam os territórios tradicionais.

De acordo com uma estudo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a repercussão da construção na Terra Indígena Capoto-Jarina e no Território Indígena do Xingu pode ser desastrosa. A ferrovia cortará várias terras indígenas na bacia do rio Xingu, causando graves danos socioambientais.

Este estudo enfatiza que os impactos gerados pelo projeto – incluindo o aumento da contaminação por agrotóxicos e do desmatamento – vão muito além da zona prevista pelo governo de 10 km em ambos os lados da rota. A construção pode até provocar o rompimento do corredor ecológico do Xingu, 26 milhões de hectares de floresta tropical protegida cuja divisão pode causar perdas irreparáveis ​​à estabilidade climática global. Já os estudos de viabilidade econômica, técnica e ambiental identificaram impactos potenciais em 16 terras indígenas, incluindo as dos povos Munduruku, Panará e Kayapó.

“A ferrovia é uma porta aberta para o agronegócio. E não são apenas as plantações de soja, mas toda a infraestrutura associada que, estando na Amazônia, vai afetar todos os territórios indígenas, nosso rio, nossa floresta”, disse Alessandra Korap Munduruku em recente entrevista com Sumaúma.

O planejado Ferrogrão O megaprojeto vai contra o compromisso do governo Lula de proteger as florestas tropicais da Amazônia e defender os direitos indígenas como contribuições críticas na luta para conter a mudança climática descontrolada. A floresta tropical e nosso futuro coletivo não podem resistir ao sinal verde de mais um desastre de infraestrutura amazônica.  

POR FAVOR COMPARTILHE

URL curto

OFERTAR

Amazon Watch baseia-se em mais de 25 anos de solidariedade radical e eficaz com os povos indígenas em toda a Bacia Amazônica.

DOE AGORA

TOME A INICIATIVA

Defenda os defensores da Terra da Amazônia!

TOME A INICIATIVA

Fique informado

Receber o De olho na amazônia na sua caixa de entrada! Nunca compartilharemos suas informações com ninguém e você pode cancelar a assinatura a qualquer momento.

Subscrever