As vozes dos povos amazônicos lideraram o Fórum Social Pan-Amazônico deste ano | Amazon Watch
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As vozes dos povos amazônicos lideraram o Fórum Social Pan-Amazônico deste ano

7 de setembro de 2022 | Gabriela Sarmet | De olho na Amazônia

Crédito: FOSPA

A 10ª edição do Fórum Social Pan-Amazônico (X FOSPA) aconteceu de 28 a 31 de julho, em Belém, Pará, no Brasil. O encontro reuniu povos e comunidades tradicionais do campo, das cidades e da floresta amazônica. Estiveram presentes pessoas de todos os nove países da região: Brasil, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Bolívia, Suriname, Guiana e Guiana Francesa. Amazon Watch Estive presente neste encontro histórico, representado pela Assessora Jurídica do Brasil Ana Carolina Alfinito e por mim, Gabriela Sarmet, Assessora de Campanha Brasil.

O X FOSPA foi marcado por um forte denúncia dos avanços do chamado paradigma do desenvolvimento, no qual governos e grandes corporações se alinham em cumplicidade na destruição ao aprovar projetos que privatizam lucros e socializam perdas sobre povos e territórios amazônicos, como Amazon Watch já denunciou há algum tempo

A violência contra lideranças comunitárias, a estagnação da demarcação de territórios indígenas, o apoio ao extrativismo ilegal e outras violações de direitos se reproduzem – em diferentes ritmos e dimensões – por toda a floresta amazônica. O FOSPA, portanto, funcionou como um espaço geopolítico onde as prioridades nas discussões foram estabelecidas pelos próprios povos afetados por essas políticas de destruição, marcando um forte protagonismo das resistências históricas de povos e comunidades tradicionais.

Nas discussões, a urgência de um compromisso com um transformação radical das estruturas políticas, econômicas e sociais que cercam a Amazônia ficaram evidentes, principalmente no que diz respeito à tomada de decisões. 

Como espaço de compartilhamento de conhecimento, o intercâmbio promovido durante os quatro dias do FOSPA reiterou a inviabilidade do atual modelo de desenvolvimento predatório, que reforça práticas e pensamentos coloniais como a relação indissociável entre natureza e exploração humana – em particular de sujeitos racializados como povos indígenas, comunidades ribeirinhas e quilombolas.

Amazon Watch representantes participaram de mesas e atividades sobre mineração e seus impactos socioambientais. Além disso, apoiamos Campanha da FEPIPA (Federação dos Povos Indígenas do Pará), que coletou com sucesso 420 assinaturas de 255 organizações.

Amazon WatchA Assessora Jurídica da Ana Carolina Alfinito também acompanhou o Tribunal Internacional dos Direitos da Natureza durante sua no local visita ao Território Carajás. Na FOSPA, os juízes internacionais que fazem parte deste tribunal divulgaram um relatório parcial sobre violações de direitos humanos e violações contra a natureza na Amazônia. Os dados do relatório foram coletados pela delegação de juízes do Brasil, África do Sul, Equador, Peru e Estados Unidos em visitas realizadas às cidades de Altamira, Anapu, Marabá, Parauapebas e Canaã dos Carajás, todas que têm um histórico de violência física e simbólica causada por hidrelétricas, conflitos agrários, mineração e agronegócio. Alfinito fez um discurso forte resumindo as observações do Tribunal sobre o assunto em 29 de julho.

De acordo com os líderes comunitários presentes que compartilharam suas experiências, Carajás abriu caminho para outros megaprojetos a serem construídos na Amazônia. Por todas essas razões, um dos veredictos do Tribunal foi a demanda por uma sessão específica no Belo Sun alertar não só os investidores da mineradora sobre a sistemática violação de direitos ocorrida na região, mas também como forma de conscientizar toda a população canadense sobre os planos de seu país em território amazônico. 

Alfinito deixou claro que eles atuam como facilitadores e tradutores, mas que os verdadeiros juízes são, de fato, os povos e comunidades que mantêm a floresta em pé. Ela também destacou que o termo “afetados” é insuficiente para descrever o que essas populações vêm passando com o avanço das mineradoras e outros megaprojetos: é destruição, uma declaração de guerra, é ecocídio. “A lógica extrativista da mineração leva a múltiplas formas de violência e não quer que nada exista fora dela. É como se tudo ali fosse possuído pela mineração”, ela falou sobre o território Carajás.

Outro evento que incluiu Amazon Watcha participação foi “Mineração contra territórios na Amazônia: violações, reparações e resistência”, organizada pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios em Face da Mineração (CMD). Um dos destaques deste painel foi a constante comparação da situação atual da Amazônia com a história do estado de Minas Gerais – um estado fortemente marcado por desastres minerários (Brumadinho e Mariana). Uma das frentes hoje é a iniciativa “Territórios Livres de Mineração”, onde a necessidade dessa atividade, forjada durante a pandemia, agora está sendo duramente questionada. Mineração para quê? Para quem? E como? Esses foram os pontos centrais discutidos.

Crédito: FOSPA

Não podemos assistir silenciosamente a um ecocídio acontecer, como vem acontecendo na Amazônia e em outros biomas brasileiros. É necessário reestruturar completamente nossos sistemas de justiça para promover a justiça restaurativa e regenerativa, e não mais punitiva. É possível reestruturar nossa forma de pensar e fazer política para mudar o ciclo de extrativismo predatório que há séculos avança sobre a Amazônia.

A judicialização de casos relacionados aos Direitos da Natureza no Brasil, como já ocorre em países vizinhos, pode ser decisiva para a reconstrução do país que sofreu com o desmonte das políticas ambientais e violações sistemáticas dos direitos dos povos e comunidades tradicionais que atuam como guardiões das florestas, rios e montanhas.

Os cientistas têm nos alertado que devemos proteger a floresta amazônica, seu povo e as comunidades que a mantêm de pé. À medida que enfrentamos a emergência climática, essa tarefa é mais importante do que nunca para garantir a sobrevivência humana no planeta. Para isso, precisamos ir além da solidariedade e começar a pensar em termos de reciprocidade. Isso significa que precisamos agir coletivamente para proteger a natureza e todos os seus seres para garantir nossa própria sobrevivência como espécie.

É superando a separação colonial entre seres humanos e natureza que construiremos um mundo alternativo, onde os direitos humanos sejam respeitados e a natureza protegida.

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