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Indígenas Yudja Solicitam Consulta Sobre Belo Sun, Mineradora Canadense Que Quer Extrair Ouro no Rio Xingu

17 de julho de 2015 | Atualização de campanha

A proposta da empresa é realizar operações de mineração em área que será mais impactada pelo aproveitamento hidrelétrico de Belo Monte. Ministério Público Federal, Fundação Nacional do Índio e Universidade Federal do Pará se reuniram com os indígenas Yudja para discutir seus direitos
a ser consultado.

O cenário de Big Bend, ou Volta Grande, no rio Xingu, em Altamira, no estado do Pará, é um deslumbrante labirinto de ilhas, praias, pedras e mata virgem, principalmente agora no auge do verão amazônico, quando o rio seca e as temperaturas sobem acima de 35 graus Celsius. O que não se vê nesta paisagem, pelo menos por enquanto, é a incerteza que vem com a instalação da hidrelétrica de Belo Monte. Também ausente visualmente está a disputa envolvendo a Belo Sun Mining Co., empresa canadense pertencente ao grupo Forbes Manhattan. O projeto de exploração de ouro de Belo Sun exacerbaria os graves impactos ambientais da usina hidrelétrica.

O processo de licenciamento da mina é realizado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Pará (SEMA). Belo Sun obteve sua Licença Prévia apesar de várias irregularidades identificadas pelo Ministério Público Federal, incluindo a falta de clareza sobre os impactos cumulativos sobre o
Região de Volta Grande. Essa é a região mais afetada por Belo Monte. Cem
quilômetros do rio Xingu serão desviados para movimentar as turbinas da hidrelétrica,
que poderia comprometer os ecossistemas circundantes.

O Ministério do Meio Ambiente considera Volta Grande uma região de grande importância para a conservação da biodiversidade por sua flora e fauna únicas. A construção da barragem de Belo Monte criará condições estressantes nos ciclos hídricos que podem resultar na extinção de várias espécies. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) e a Agência Nacional de Águas (ANA) reconhecem a gravidade da situação em Volta Grande e estabeleceram um período de monitoramento de seis anos durante o qual pode ser necessário, por exemplo, reduzir a quantidade de água que é desviada pelas turbinas para garantir a sobrevivência do rio.

Apesar do alto grau de incerteza, a Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Pará (SEMA) ignorou advertências do Ministério Público Federal e concedeu a licença de lavra à Belo Sun. A SEMA também ignorou a existência de comunidades indígenas que viveram por gerações nos delicados e ricos ecossistemas de Volta Grande. A SEMA emitiu a licença sem exigir estudos sobre o impacto do projeto nessas comunidades. Mas a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) interveio no processo e determinou a necessidade de estudos. Mesmo assim, as comunidades indígenas da Terra Indígena Paquicamba e os Arara de Volta Grande exigem consulta sobre o projeto antes que quaisquer outras etapas sejam alcançadas no processo de licenciamento da mina.

Nos dias 15 e 16 de julho, os moradores de Paquicamba da etnia Yudja, também conhecidos como Juruna, se reuniram na aldeia de Miratu, na orla de Volta Grande, para discutir a situação e o duplo impacto a que poderiam estar sujeitos. Na presença de representantes da FUNAI, do Ministério Público Federal e da Universidade Federal do Pará, decidiram que, antes de qualquer estudo sobre mineração, vão exigir que finalmente seja garantido aos indígenas o direito à consulta prévia. Embora esse direito exista na legislação brasileira, ele nunca foi implementado com relação a Belo Monte. Os Yudja passaram a elaborar protocolo detalhado para a consulta seguindo exemplos de outros povos atingidos por projetos semelhantes que reivindicam este direito básico, que nunca foi respeitado pelo Estado brasileiro. Eles incluem os Munduruku do Pará e os Wajapi do Amapá.

Uma preocupação tanto dos povos indígenas quanto da Fundação Nacional do Índio é o risco de
contaminação da água pela Belo Sun Mining. A proposta da empresa para extração industrial de ouro
exigirá a remoção de toneladas de terra e rocha. Para cada tonelada extraída, um grama
de ouro será extraído. O problema é que esse processo de extração expõe o arsênio contido na rocha. Se houver vazamento no rio, isso pode ter consequências fatais para as comunidades indígenas que vivem próximas às águas do rio Xingu. Até sete quilos de arsênico altamente tóxico podem ser potencialmente liberados no processo de extração do mesmo grama de ouro.

Rodrigo Bulhões, técnico da Coordenadoria Geral de Licenças do Nacional
A Indian Foundation, que monitora o processo de licenciamento da mina, cita o exemplo da Kinross,
outra mineradora canadense de ouro com atuação em Paracatu, no estado de Minas Gerais. A contaminação por arsênico da mina Kinross provocou doenças graves na população local. A contaminação das operações da Belo Sun pode resultar dos dois aterros que a mina irá produzir. Esses montes terão uma altura estimada de 75 a 85 metros, o que equivale a um edifício de 23 a 28 andares. Estarão cheios de arsênio que, de acordo com o plano do projeto, ficará contido em uma lagoa de rejeitos. Se a mina prosseguir, a lagoa ficará a apenas 1200 metros do curso do rio Xingu.

Para a Fundação Nacional do Índio, a incerteza sobre o futuro de Volta Grande significa que
os estudos realizados pela Belo Sun não podem ser tomados como conclusivos no que diz respeito ao impacto na
o Rio. A Fundação, portanto, recomendou à Secretaria de Meio Ambiente do Estado do Pará que o projeto fosse adiado por seis anos até o final do período de monitoramento estabelecido por
IBAMA a respeito de Belo Monte. Mas os Yudja afirmam que antes de qualquer estudo ser feito, a empresa canadense deve fazer uma consulta com eles. “É o nosso futuro, a nossa contínua habitação nesta terra que está em questão. Precisamos dizer o que pensamos ”, diz Leiliane Pereira, uma jovem líder da aldeia Miratu.

Os Yudja são conhecidos como Juruna, nome que significa boca negra, que lhes foi dado por
povos indígenas vizinhos. Yudja significa aqueles que são donos do rio, e é o nome que
eles pedem para serem usados. Além do Yudja, os projetos Belo Monte e Belo Sun impactarão o
Indígenas Arara da Volta Grande e a população indígena do Ituna-Itata
área, que vivem em isolamento voluntário com proteção da Fundação Nacional do Índio.

Embora haja incertezas quanto ao futuro de Volta Grande, há pressão para implementar
Projeto de Belo Sun. A pedido do Ministério Público Federal, um juiz federal
em Altamira anulou a licença prévia de Belo Sun em 2014. O Ministério Público Federal então interpôs
uma segunda ação judicial exigindo que o processo de licenciamento seja realizado pelo brasileiro
Instituto do Meio Ambiente (Ibama), em oposição às autoridades estaduais. Em uma preliminar
decisão, um juiz federal determinou que o IBAMA deveria intervir em todas as futuras decisões de licenciamento. A empresa recorreu e aguarda decisão do Tribunal Regional Federal da Primeira Região em Brasília. Nesse ínterim, as duas decisões da Justiça Federal em Altamira estão suspensas.

 

Observação: O Ministério Público Brasileiro (Ministério Público em português) é um órgão independente de promotores públicos. Este “ministério público” opera independentemente dos outros ramos do governo, incluindo o Ministério da Justiça. Seu mandato é defender os direitos coletivos e individuais, o sistema jurídico e os processos democráticos. O Ministério Público tem a tarefa, entre outras coisas, de garantir que as autoridades e serviços públicos respeitem os direitos constitucionalmente protegidos. O Ministério Público instaura inquéritos judiciais e ações cíveis para proteger os interesses públicos e sociais, o meio ambiente e outros direitos individuais e coletivos. Nenhuma instituição desse tipo existe no Canadá.

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