Ministério Público brasileiro denuncia etnocídio e pede intervenção judicial em Belo Monte | Amazon Watch
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Ministério Público Brasileiro denuncia etnocídio e pedido de intervenção judicial em Belo Monte

14 de dezembro de 2015 | Atualização de campanha

O Ministério Público Federal (MPF) iniciou hoje um processo na Justiça Federal em Altamira (PA) buscando o reconhecimento de que a implantação do projeto da barragem de Belo Monte constitui um ato de etnocídio do governo brasileiro e da concessionária de barragens Norte Energia, citando evidências abundantes de “A destruição da organização social, costumes, línguas e tradições dos grupos indígenas afetados”. A acusação é baseada em uma extensa investigação conduzida pelo MPF que é ainda apoiada pela recente emissão de uma Licença de Operação para Belo Monte pelo IBAMA, o órgão ambiental federal, apesar do “descumprimento deliberado e reiterado” das medidas de mitigação e compensação exigidas por licenças ambientais prévias.

A ação do MPF também prevê intervenção judicial imediata, por meio de comissão externa independente, em relação ao componente indígena de um plano de ação (PBA-I) destinado a mitigar e compensar os impactos do projeto que foi aprovado pelos órgãos licenciadores, mas implementado pela Norte Energia com enormes imperfeições. A intervenção deve permitir uma auditoria externa independente com o objetivo de promover grandes mudanças na gestão do projeto, com uma transição da situação atual de ilegalidade e etnocídio (em contraste com as ações de mitigação e compensação) para uma situação em que os fundos públicos que financiam o projeto são efetivamente usados ​​em benefício dos povos indígenas afetados.

De acordo com o MPF, a comissão independente de intervenção / transição “deve ser financiada por Norte Energia e composta por equipe multidisciplinar com membros indicados pela FUNAI, Associação Brasileira de Antropologia - ABA, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC, Conselho Nacional de Direitos Humanos e organizações indígenas e da sociedade civil, com igual participação de povos indígenas e fiscalização pelo Ministério Público Federal ”. Além disso, Norte Energia seria obrigada a demonstrar que garantiu os recursos financeiros necessários para implementar um plano de ação revisado durante os 35 anos de seu contrato de concessão de Belo Monte.

O processo do MPF apresenta 16 pedidos específicos de liminares judiciais relativos à gestão do empreendimento de Belo Monte, incluindo estudos complementares sobre impactos adicionais causados ​​por ilegalidades no processo de licenciamento ambiental, bem como indenizações por danos socioambientais sofridos pelos povos indígenas afetados. A petição reconhece que os juízes podem ordenar inspeções de campo por antropólogos para determinar que tipo de reparação é mais apropriado entre os diferentes grupos étnicos.

A ação foi ajuizada após prolongada investigação conduzida pelo Ministério Público Federal e diversos técnicos. A investigação já produziu 50 volumes de documentos e dados que demonstram os trágicos impactos de Belo Monte para os povos indígenas. Em vez de serem protegidos durante a implementação do projeto, os direitos e tradições culturais dos povos indígenas foram sistematicamente violados, resultando na possibilidade real de seu desaparecimento como grupos étnicos distintos. Uma das principais causas desta tragédia diz respeito à forma como foi conduzido o processo de licenciamento ambiental, em que os riscos identificados no estudo de impacto ambiental (EIA) foram repetidamente ignorados.

Segundo o MPF, os atos de etnocídio sofridos por nove tribos indígenas atingidas por Belo Monte foram em grande parte causados ​​pela falta de rigor do governo federal no licenciamento do projeto: em nome da promoção do interesse nacional, obrigações foram postergadas ou modificadas de acordo com os interesses da concessionária da barragem, Norte Energia. Além disso, o fracasso do governo federal em cumprir suas próprias obrigações - como o fortalecimento dos órgãos federais responsáveis ​​pelos povos indígenas e pelo meio ambiente (FUNAI e IBAMA, respectivamente) e a retirada de invasores das terras indígenas - contribuiu diretamente para a devastação cultural de grupos étnicos.

A ação afirma que a forma como a Norte Energia e o governo brasileiro implementaram Belo Monte constitui uma violação direta da Constituição Federal, tendo em vista o uso de práticas destrutivas de assimilação cultural de grupos indígenas que são proibidas pela legislação brasileira. “O que está ocorrendo com a barragem de Belo Monte é um processo de extermínio étnico, pelo qual o governo federal deu continuidade às práticas coloniais de integração dos povos indígenas à sociedade hegemônica.”

Em um resumo das principais falhas identificadas em sua investigação, o Ministério Público chegou à conclusão de que “Belo Monte completa sua fase de instalação sem a proteção das terras indígenas, sem a estruturação do órgão indígena FUNAI para cumprir sua missão institucional, e na ausência de um plano minimamente adequado de mitigação e compensação dos impactos ”.

Entre inúmeras falhas, o processo do MPF destaca como especialmente trágico um 'Plano de Emergência' implementado pela Norte Energia entre os territórios indígenas do médio Xingu entre 2010 e 2012, nos quais a distribuição indiscriminada de bens de consumo entre os povos indígenas constituiu uma política de pacificação e silenciamento da oposição que lembra os momentos mais violentos da história colonial do Brasil (veja o vídeo do MPF sobre o plano de emergência)

A ação movida na Justiça Federal de Altamira conclui que “assim, está amplamente demonstrado que Belo Monte colocou em marcha um processo de eliminação dos meios de subsistência dos grupos indígenas afetados, deixando de impor barreiras às mudanças previstas e acelerando-as ainda mais por meio de ações de homogeneização e desestabilização. ”

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