Amazônia contra o relógio | Amazon Watch
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Amazônia contra o relógio: uma avaliação regional sobre onde e como proteger 80% até 2025

Um relatório inovador organizado pela COICA e Stand.earth com pesquisa realizada pela RAISG apresenta novos dados sobre desmatamento e reafirma o papel crítico dos povos indígenas na proteção de 80% da Amazônia até 2025

Setembro 2022 | Iniciativa Amazônia para a Vida 80% até 2025 | Relatório

Baixe o relatório completo | Sumário executivo
Veja o site Amazonía for Life

A Amazônia está no meio de uma crise de ponto de inflexão, pois o desmatamento e a alta degradação combinados já atingiram 26% da região. O ponto de inflexão deve ser entendido como o início de uma metástase ou a destruição irreversível do ecossistema. Como resultado, a savanização já está ocorrendo lá. No entanto, preservar 80% da Amazônia até 2025 ainda é possível. 2030 apresenta um desafio dado o estado atual da região. Essa meta [80%] exige medidas urgentes para salvaguardar os 74% restantes (629 milhões de hectares) da Amazônia que são Áreas-Chave Prioritárias Intactas (33%) e com Baixa Degradação (41%).

Amazônia: Principais Áreas Prioritárias. Crédito: RAISG

A pesquisa aborda o problema em nível nacional nos nove países da bacia e mostra que 34% da Amazônia brasileira entrou em processo de transformação. Isso vale para 24% da Amazônia boliviana, 16% no Equador, 14% na Colômbia e 10% no Peru, que são os países com as maiores taxas. A savanização já é uma realidade no sudeste da região, principalmente no Brasil e na Bolívia, países que concentram 90% de todo desmatamento e degradação combinados na região. Os dados mostram que ambos os países são responsáveis ​​por 90% do desmatamento e degradação de toda a região e que compartilham invasões ou subjugação como a principal causa do desmatamento. Esse problema coloca os Estados e seus marcos jurídicos no centro das soluções. 

“Existe uma correlação direta entre a destruição de nossa casa e os assassinatos de lideranças indígenas, defensoras de nossos territórios. Confirmamos que o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas da bacia amazônica é uma solução urgente para salvaguardar 80% da Amazônia. Todos devemos agir em unidade e devemos fazê-lo antes de 2025”.

José Gregorio Díaz Mirabal, Coordenador Geral da COICA
Estado atual da Amazônia. Crédito: RAISG

“…A destruição desenfreada e a cobiça de nossos territórios ancestrais, nossa Amazônia, no norte do país, é a face da histórica violação de direitos a que nós, povos indígenas do Brasil, estamos sujeitos há décadas. Nossos territórios não são respeitados ou legalmente reconhecidos... No processo resistimos com nossas vidas, estamos sendo mortos por defender nosso território em toda a região. O Brasil tem que ser um exemplo a não seguir, uma história que não se repete.”

Nara Baré, Ex-Coordenadora de Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira COIAB, Brasil

Direitos Indígenas

Esta pesquisa corrobora o papel crítico dos povos indígenas na proteção da Amazônia. Territórios Indígenas (TI) e Áreas Protegidas (AP) são vitais para proteger a região. Ambos os regimes representam quase metade (48%) da Amazônia. 86% do desmatamento ocorreu fora das APs e TI nacionais. A outra metade (52%) são áreas não designadas que correm o risco de desaparecer e sem as quais é impossível evitar o ponto de inflexão.  

O nível de conservação dos Territórios Indígenas é comparável e até superior ao das Áreas Protegidas e das áreas de sobreposição entre os dois regimes. No entanto, os Territórios Indígenas não têm alocações orçamentárias de seus governos. A visão de mundo e o conhecimento de mais de 500 povos indígenas distintos que habitam a Amazônia há milênios vivendo em harmonia com a natureza é o que mantém a floresta em pé. Reconhecer os direitos indígenas nos quais se baseia a integridade dos ecossistemas é um fator diferenciador para enfrentar a crise climática que deve ser integrado às políticas de conservação. 

“Os Povos em Situação de Isolamento Voluntário e Contato Inicial (PIACI) são extremamente vulneráveis ​​e correm o risco de extinção devido à ausência de medidas de proteção para suas vidas e seus territórios. Somente hoje, após uma pandemia global, entendemos a necessidade de se auto-isolar para sobreviver. A Amazônia profunda abriga mais de 200 povos em isolamento… A desconexão de nossos irmãos PIACI com este mundo faz com que desapareçam como povos impunes…”

Jorge Pérez, Presidente da AIDESEP, Peru

Biodiversidade

Os povos indígenas protegem os 80% restantes da biodiversidade do mundo. A Amazônia é megadiversidade: é o habitat com maior biodiversidade do mundo, abrigando 5 dos 17 países megadiversos do planeta. Estima-se a presença de pelo menos 16,000 mil espécies de árvores no bioma. Existem regiões como o Parque Nacional Yasuní no Equador que registram, em média, cerca de 260 espécies de árvores em um hectare (Pérez et al. 2014). Ao incluir os diferentes grupos de organismos, a região possui 25% de toda a biodiversidade terrestre e mais de 10% de todas as espécies conhecidas na Terra (Mittermeier et al. 2002; Prance & Lovejoy 1985).  

“…Os povos indígenas cumprem há milênios nosso papel de viver em harmonia, em reciprocidade e simbiose, protegendo assim as florestas, os rios e os animais, mas não podemos continuar a fazê-lo sem o efetivo reconhecimento de nossos direitos coletivos e territoriais.”

Michaell McGarrel Coordenador de Direitos Humanos e Políticas da COICA, Guiana

Indutores do Desmatamento

66% da Amazônia está sujeita a algum tipo de pressão fixa ou permanente. Os marcos legais atuais criam condições para que os estados concedam licenças em florestas intactas ou TIs sem o consentimento livre, prévio e informado das populações que habitam a região. A capacidade restauradora da Amazônia está se esgotando. É necessária uma transição imediata.

O setor agropecuário é responsável por 84% do desmatamento da Amazônia. As invasões, assim como as queimadas, estão diretamente relacionadas à expansão da fronteira agrícola. PA e TI não ficaram isentos do problema. A expansão da fronteira agrícola cresceu dentro da AP 220% entre 2001-2018 e na TI cresceu 160% neste mesmo período. Em ambos os casos, a floresta foi substituída. A pecuária é o maior impulsionador do desmatamento na Amazônia. O desmatamento causado pela pecuária na floresta amazônica é responsável por quase 2% das emissões globais de CO2 anualmente.

A mineração está presente em todos os países da Amazônia, afetando 17% da região. 9.3% de toda a atividade de mineração está localizada no PA e mais 9% em TI. 85% da atividade de mineração em TI ocorre em TI já reconhecida. Atualmente, metade das áreas de mineração em AP e 68% das presentes em TI estão em fase de aplicação, o que significa que podem ser revertidas. A mineração ilegal sem registro está se expandindo em toda a bacia.

Os blocos petrolíferos ocupam 9.4% da superfície da Amazônia (80 milhões de hectares). 43% dos blocos petrolíferos estão localizados em áreas protegidas e territórios indígenas. 89% do petróleo bruto exportado da Amazônia vem do Equador e seu principal destino são os EUA. Mais da metade (52%) da Amazônia equatoriana é um bloco petrolífero, 31% no Peru, 29% na Bolívia e 28% na Colômbia.

Das 350 usinas hidrelétricas (CH) que operam na bacia, 483 estão projetadas para construção futura, totalizando 833 usinas hidrelétricas potenciais. A construção de projetos hidrelétricos altera o fluxo livre de mais de 1,100 afluentes que compõem a bacia amazônica.

Crédito: Javier Mesa, Provita

Perdão Condicionado da Dívida

A dívida deve ser entendida como um problema sistêmico que entrelaça todas as atividades dos países do Sul e do Norte. Analisar separadamente as mudanças climáticas, a pobreza, a insegurança alimentar, o endividamento, a perda de ecossistemas e biodiversidade, a violência e a economia em geral, revela um viés que inibe a possibilidade de resposta à crise que se apresenta com vários sintomas. A dívida é uma das causas estruturais da destruição da Amazônia e de outros ecossistemas vitais para a humanidade.

Durante a pandemia, os estados amazônicos enfrentaram graves níveis de endividamento: Brasil 101% do PIB, Equador 65% do PIB, Colômbia 61% do PIB, entre os mais altos. No final de 2021, a América Latina era a região emergente mais endividada do planeta. Esse resultado do choque pandêmico soma cinco décadas com pelo menos 50 crises de dívida soberana e reestruturações de dívida soberana. Segundo dados da CEPAL (CEPAL 2021), a dívida bruta do governo é em média 78% do PIB regional na América Latina. Só o serviço da dívida total representa 59% das suas exportações de bens e serviços. 

“A dívida externa com os países amazônicos deve ser entendida como um motor sistêmico e combustível para as atividades extrativistas em toda a região. Como coalizão, propomos o cancelamento dessa dívida como medida de proteção imediata para aliviar os desafios econômicos pelos quais nossos países estão passando. Essa proposta de perdão da dívida estaria condicionada à proteção de 80% da Amazônia”.

Tuntiak Katán Vice-Coordenador COICA, Equador

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