Enorme projeto da mina de ouro Belo Sun bloqueado no Brasil | Amazon Watch
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Projeto maciço da Mina de Ouro Belo Sun bloqueado no Brasil

Comunidades indígenas e tradicionais comemoram quando tribunais entregam grande prejuízo à mineradora canadense

28 de abril de 2022 | Ana Carolina Alfinito e Camila Rossi | De olho na Amazônia

Crédito da foto: Cícero Pedrosa Neto/ Amazon Watch

Em decisão proferida nesta segunda-feira, 25 de abril, o Primeiro Tribunal Regional Federal do Brasil (TRF-1) manteve a suspensão de uma licença ambiental para o Projeto Volta Grande (VGP), um enorme projeto de mineração de ouro que a empresa canadense Belo Sun Mining Corporation pretende esculpir no coração da Amazônia brasileira. A VGP é projetada para ser a maior mina de ouro a céu aberto da história brasileira, localizada a apenas alguns quilômetros da Belo Monte mega-barragem. Se implementado, o VGP não apenas promoveria o ecocídio da região da Volta Grande do Xingu, um ecossistema único e frágil na bacia do rio Xingu, mas também abriria as portas de uma nova fronteira de mineração de ouro na Amazônia para interesses corporativos.  

A decisão do TRF-1 é resultado de esforços sustentados da sociedade civil e de aliados institucionais, como Ministério Público e Defensoria Pública, para impedir a instalação da gigantesca mina de ouro de Belo Sun e buscar reparação pelos atos ilícitos cometidos no curso do processo de licenciamento ambiental do VGP. A licença ambiental do projeto está suspensa desde 2017, quando uma decisão anterior do mesmo Tribunal Regional entendeu que a Belo Sun e o governo brasileiro desrespeitaram o direito à consulta e consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas que seriam impactados pela a mina de ouro. A Belo Sun vem tentando contestar essa decisão alegando que as consultas necessárias foram realizadas no ano passado. No entanto, esta semana decisão confirma que as medidas tomadas pela Belo Sun e órgãos governamentais ainda estão aquém dos requisitos estabelecidos pela legislação nacional e normas internacionais. 

Como demonstra esta vitória, as estratégias legais são apenas parte dos esforços mais amplos empreendidos pela sociedade civil brasileira e internacional para resistir à mineração industrial na Amazônia. Com apoio de Amazon Watch e outros parceiros que compõem a Aliança pela Vida na Volta Grande, as comunidades locais têm fortalecido a sua organização política e insistido no seu direito de dizer não à mineração nos seus territórios. No início de maio, a Aliança está organizando uma delegação de representantes comunitários, advogados e pesquisadores que se unirá a lideranças da região do Tapajós e a representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) para denunciar a destruição causada pela mineração, pelo agronegócio e projetos de desenvolvimento flagrantes na Amazónia e exigem que as autoridades e instituições europeias tomem medidas urgentes contra as violações massivas dos direitos humanos que estão a ocorrer nestes territórios.

A decisão judicial é uma vitória crucial para a sociedade civil e comunidades tradicionais amazônicas em um momento em que a Belo Sun e outras corporações internacionais estão tomando medidas agressivas para expandir a mineração no Brasil. A força política da mineração corporativa pode ser vista no Congresso brasileiro, onde o governo federal Projeto de Lei 191/2020, que abre terras indígenas para mineração e outras atividades industriais, está sendo acelerado em coordenação com o regime Bolsonaro, que tem pressionado consistentemente pela mineração industrial na Amazônia. A cooptação de instituições brasileiras pela indústria de mineração torna difícil e perigosa a resistência à mineração industrial. Defensores da terra e do meio ambiente que se manifestam contra projetos de mineração são frequentemente criminalizados e ameaçados, conforme documentado na Cumplicidade na Destruição IV Denunciar, publicado recentemente por Amazon Watch e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).  

A questão da consulta e consentimento indígena tem estado no centro das controvérsias envolvendo o projeto de mineração da Belo Sun. Desde o início do processo de licenciamento ambiental do VGP, em 2012, a empresa tem buscado sistematicamente silenciar os dissidentes adotando duas estratégias: excluindo as comunidades impactadas dos processos de consulta e deixando de informar que estavam participando de um processo de consulta prévia. Embora a Volta Grande do Xingu seja habitada por uma miríade de povos indígenas e comunidades tradicionais, apenas dois povos indígenas – os Juruna da Terra Indígena Paquiçamba e os Arara da Terra Indígena Arara da Volta Grande – foram consultados pela empresa. 

Outros povos indígenas – os Kuruaya e os Xipaia – e as comunidades tradicionais da região, que incluem pequenos proprietários, comunidades ribeirinhas e pesqueiras e famílias que vivem de atividades de pequena escala – foram ignorados ou meramente informados sobre o projeto. Um recente relatório técnico emitido pela Observatório Brasileiro de Protocolos de Consulta e Consentimento Livre, Prévio e Informado constataram que a consulta realizada pela Belo Sun deixou sistematicamente de consultar essas comunidades e de respeitar os precedentes e a legislação nacional e internacional sobre o assunto. 

Além das ameaças que o Projeto Volta Grande representa, os impactos e riscos da Belo Sun vão muito além das comunidades locais. No total, o VGP cobre 2,400 hectares de terras amazônicas, mas os interesses de mineração da Belo Sun cobrem muito mais – até 170,000 hectares dentro do greenstone belt “Três Palmeiras”. Além disso, a região da Volta Grande do Xingu já é severamente impactada pela barragem de Belo Monte, que impactou profundamente o ecossistema da região. Belo Monte desvia a água da Volta Grande para um enorme canal artificial e para a casa de força da barragem, e a redução drástica no fluxo de água sobrecarrega o abastecimento de água para beber e irrigação, esgota os níveis saudáveis ​​de peixes e outras formas de vida aquática e bloqueia regiões migração de espécies, entre outros impactos. Tudo isso está levando a um colapso ambiental sistemático, ou ecocídio,  que está tornando a vida cada vez mais insuportável para as comunidades locais que dependem do Xingu. Como declarações oficiais emitidos pelo Ministério Público ao longo dos últimos anos, esse ecossistema agora frágil não pode suportar nenhum outro megaprojeto, especialmente se o colapso socioambiental for acelerado. A própria Belo Monte alertou para o crescente nível de risco para este projeto de mineração. Ao reduzir ainda mais os níveis de água, represar afluentes do rio Xingu e operar uma perigosa barragem de rejeitos no coração do Xingu, a mina de ouro da Belo Sun pode ser a gota d'água para destruir o já vulnerável equilíbrio ecológico da região. 

Enquanto isso, a Belo Sun vem operando ilegalmente em outras frentes além da consulta. Como demonstram recentes investigações realizadas por pesquisadores da Universidade do Pará, a Belo Sun tem aquisição ilegal de terras públicas dentro de um assentamento de reforma agrária – o PA Ressaca – para a instalação da mina de ouro. O INCRA foi cúmplice disso, e a transferência desse terreno público para Belo Sun é objeto de ação judicial movida ontem, 26 de abril de 2022, pela Defensoria Pública. 

Essa importante vitória foi possível graças à pressão e resistência sustentadas das comunidades indígenas e tradicionais. Agora, convidamos você a se juntar a nós e chamar a atenção para as ameaças representadas pela Belo Sun ao lado de uma delegação da comunidade em maio, onde os líderes levarão essas estratégias a políticos e corporações europeias. Devemos unir nossas vozes para amplificar os principais riscos para a Amazônia e além, não apenas para as pessoas impactadas por este projeto, mas para a humanidade. Vamos começar retirando a mineração da Amazônia e terminando esta mina Belo Sun antes que ela dê mais um passo à frente! 

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