De Wall Street à Amazônia: Grandes capitais financiam desmatamento impulsionado pela mineração | Amazon Watch
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De Wall Street à Amazônia: Grandes Fundos de Capital Desmatamento Impulsionado pela Mineração

22 de fevereiro de 2022 | Jenny Gonzales | Mongabay

Crédito da foto: Daniel Beltrá/Greenpeace

Grandes gestores de investimentos, incluindo BlackRock e Capital Group, estão entre mais de uma dúzia de instituições norte-americanas e brasileiras que financiam pesadamente empresas de mineração que estão destruindo reservas indígenas e o modo de vida de seus habitantes na Amazônia.

Essa é a constatação de um Denunciar publicado em 22 de fevereiro pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) — a maior organização indígena do país — a ONG Amazon Watch, e as Projeto Amazônia Minada.

Os 20 investidores institucionais investiram US$ 54.1 bilhões em nove conglomerados de mineração – incluindo os gigantes Vale, Anglo American, Belo Sun, AngloGold Ashanti e Rio Tinto – entre 2016 e outubro de 2021, segundo o relatório.

Desse montante, US$ 14.8 bilhões vieram de apenas três empresas americanas – BlackRock, Capital Group e Vanguard – com a BlackRock sozinha despejando US$ 6.2 bilhões nas mineradoras. (BlackRock, Capital Group e Vanguard não responderam aos pedidos de comentários da Mongabay.)

As empresas sediadas nos EUA, diz o relatório, “continuam a ser as principais financiadoras da destruição impulsionada pela mineração, mantendo as ações e títulos mais significativos, ou oferecendo os maiores empréstimos ou subscrições, às empresas de mineração”, diz o relatório.

Sete dos 20 investidores institucionais são brasileiros, liderados pela PREVI, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, seguido pelo banco Bradesco. A Mongabay pediu comentários da PREVI e do Bradesco, mas eles não responderam imediatamente.

As mineradoras, por sua vez, apresentaram milhares de pedidos à Agência Nacional de Mineração (ANM) para prospecção em áreas que se sobrepõem a reservas indígenas e unidades de conservação totalmente protegidas na Amazônia. A mineração em reservas é proibida pela Constituição do Brasil.

Essas empresas estavam entre as 570 mineradoras, grupos internacionais e associações do setor que tinham 2,478 pedidos de mineração pendentes sobrepostos a 261 territórios indígenas no registro da ANM em novembro passado, diz o relatório. As aplicações cobrem um total de 10.1 milhões de hectares (25 milhões de acres) de terra, uma área maior que a da Coreia do Sul.

“Os valores destinados à atuação dessas empresas no Brasil [proporcionam] um olhar mais atento sobre os interesses que as instituições financeiras têm no país”, Rosana Miranda, Amazon Watch conselheiro de campanha, disse à Mongabay por e-mail. “É uma teia complexa, não só devido às complexidades que envolvem empresas subsidiárias [de mineração], mas também à opacidade do sector financeiro, que é normalmente usado como uma ferramenta para evitar a responsabilização em torno de investimentos potencialmente destrutivos.”

O relatório também contextualiza a crescente financeirização do setor de mineração, dada a alta de preços de diversas commodities minerais. Isso gerou um novo boom, com o valor de mercado das 50 maiores mineradoras do mundo subindo de mais de US$ 1 trilhão durante o primeiro ano da pandemia do COVID-19 para US$ 1.4 trilhão em julho de 2021, segundo o relatório.

Miranda disse que muitos bancos e gestores de ativos justificam esses investimentos como “passivos” sobre os quais têm pouca influência. “Esta é uma noção bastante falsa, não só porque eles podem (e devem) ter mais controle sobre sua carteira, mas também porque os fundos de índice têm critérios de seleção que são criados pelos gestores de fundos – e se esse critério não está tirando o futuro do planeta em conta, então ele precisa ser revisto”, disse ela.

De 2016 a 2021, os cinco maiores financiadores institucionais de empresas mineiras destacados num relatório recentemente publicado eram dos Estados Unidos e do Brasil. Imagem cortesia de Amazon Watch/APIB/Profundo Pesquisa e Assessoria.

“As áreas indígenas sempre sofreram muita pressão do setor de mineração, mas o que está acontecendo no governo Bolsonaro é um ataque coordenado no momento dessa pressão”, Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. Observatório, uma rede de organizações da sociedade civil brasileira que defendem a ação climática, em mensagem telefônica.

Astrini observou que o PL 191 – projeto de lei que tramita no Congresso Nacional para a atividade de mineração em territórios indígenas – veio logo após conversas com mineradoras.

“Há também investidores agora, como mostra o relatório, colocando dinheiro nessa agenda de invasão de áreas indígenas… Os indígenas no Brasil vivem um dos momentos mais delicados porque existem várias forças econômicas e políticas contra essas populações.”

Um projeto de lei atualmente em tramitação no parlamento brasileiro permitiria a mineração em territórios indígenas – uma atividade atualmente proibida pela Constituição – negando o direito de veto dos povos nativos. Se o projeto for aprovado, o impacto na Amazônia será imensurável, alertam ativistas ambientais e dos direitos indígenas. Imagem cortesia de Amazon Watch.

Financiadores afetam a vida de Iindígenas 

Em 2021, o desmatamento relacionado à mineração na Amazônia brasileira aumentou 62% em relação a 2018, ano anterior à posse de Jair Bolsonaro. Apesar da atividade de mineração em territórios indígenas ser ilegal, as empresas têm pressionado para que isso seja permitido.

Entre eles está a Vale, a maior mineradora do Brasil e a 5ª no mundo em faturamento. A Vale, juntamente com Samarco e BHP, foi responsável pela colapso de uma barragem de rejeitos no município de Brumadinho, Minas Gerais, em 2019, que desencadeou um dos maiores desastres de mineração do mundo. Embora a Vale tenha anunciado em setembro passado que abriria mão de todas as suas aplicações para minerar em territórios indígenas , no mês seguinte a empresa apresentou dois novos pedidos de prospecção em áreas adjacentes à Terra Indígena Xikrin do Cateté, no estado do Pará, onde vivem os povos Kayapó e Xikrin. Em novembro passado, a Vale tinha 75 pedidos pendentes na ANM que se sobrepunham a territórios indígenas na Amazônia.

Desde 2011, a Vale minera níquel próximo à reserva Xikrin do Cateté. UMA Trabalho realizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) encontrou níveis excessivos de contaminação por metais pesados ​​em todas as amostras colhidas dos habitantes da reserva e alertou que sem medidas para conter a poluição no rio Cateté pela mina de Onça Puma, “estaremos vendo o fim dos Xikrin [povo]”.

Vale nega que sua mina é responsável pelos impactos identificados pelos pesquisadores da UFPA e pela comunidade indígena.

A ANM não respondeu aos pedidos de comentários da Mongabay sobre por que continua a registrar pedidos de atividade de mineração em terras que se sobrepõem a reservas indígenas. Uma portaria de 2015 exige que as operações de mineração estejam localizadas a pelo menos 10 quilômetros (6 milhas) de terras indígenas

“Empresas como a Vale declararam que retirariam seus pedidos de ANM e, ao mesmo tempo, receberam enormes financiamentos nos últimos anos”, disse Dinamam Tuxá, coordenador executivo da APIB, à Mongabay por telefone.

“Mesmo que se desloquem para o entorno das [reservas indígenas], conforme permitido pela Portaria 60/2015, essas atividades contaminam nossas terras de qualquer maneira, pois os metais pesados ​​associados à mineração acabam atingindo os leitos dos rios, que fluem pelas [reservas]”, Dinamam Tuxá adicionado.

Angohó Pataxó, líder comunitário e um dos 222 povos indígenas cujas terras e vidas foram afetadas pelo desastre da barragem de Brumadinho, disse à Mongabay que a Vale não os reconhece como diretamente impactados.

“Eles argumentam que não morávamos muito perto da barragem, mas a cerca de 20 quilômetros de distância”, disse ela em entrevista por telefone. “O rio Paraopeba, porém, que passa pela aldeia, foi contaminado, assim como nossas terras. Não podemos mais pescar ou caçar, vivemos de doações. E não podemos batizar nossos filhos que nasceram desde o desastre porque o rio está morto”.

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