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Governo Brasileiro Entregará Terras Públicas a Empresa Canadense em Acordo de Porta Traseira

Agência de reforma agrária negociou com Belo Sun Mining corp. para reduzir um assentamento de terras públicas para favorecer um projeto de mineração de ouro na Amazônia. As famílias da região não foram consultadas. As negociações são “nulas e sem efeito”, afirma o Defensor Público.

17 de dezembro de 2021 | Para divulgação imediata


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Oakland, CA - O órgão federal encarregado da política de reforma agrária no Brasil, INCRA, reduziu a área de um assentamento criado há 22 anos no estado do Pará para abrir espaço para a mineração de ouro, segundo o jornal brasileiro O Estado de S.Paulo. A negociação, acertada com um contrato firmado recentemente com a canadense Belo Sun Mining Corp., foi revelada na semana passada.

O projeto de mineração da Belo Sun pretende ser a maior mina de ouro a céu aberto do país instalada às margens do rio Xingu, uma área na Amazônia brasileira logo abaixo da barragem da usina hidrelétrica de Belo Monte, que já sofre os enormes impactos da a operação da barragem. Desde o início do licenciamento do projeto de mineração em 2012, Belo Sun enfrentou inúmeras ações judiciais que pedem o cancelamento de suas licenças e a suspensão do processo devido às diversas lacunas e irregularidades inerentes ao desenvolvimento do projeto. Especialistas afirmam que o projeto não é viável e pode significar a morte do rio Xingu.

O acordo prevê que o INCRA reduzirá uma área de 2,428 hectares de terras públicas em uma região onde vivem cerca de 600 famílias. Em troca, receberá uma fazenda localizada a mais de 1,500 quilômetros de distância, alguns equipamentos de trabalho e uma participação no faturamento da Belo Sun.

“Essa negociação não só contradiz o mandato constitucional do INCRA - que é destinar áreas para reforma agrária, não para exploração mineira - mas também foi feita sem a participação dos moradores que moram nessas áreas, que não foram informados de nada disso”, afirmou. disse Ana Carolina Alfinito, advogada e assessora jurídica da Amazon Watch, uma das organizações que integram a Aliança pela Volta Grande, criada para apoiar a defesa da vida e da dignidade na região e sua proteção permanente contra projetos de infraestrutura.

Na verdade, os moradores da região foram pegos de surpresa, pois não foram informados pelo INCRA de que havia sequer uma negociação em andamento. “Meu pai tem 100 hectares de terra nessa área que eles querem reduzir. Ninguém discutiu isso comigo, nem meu pai, ” disse Idglan da Silva ao jornal. “É uma situação horrível, estamos atordoados. Não podemos dormir à noite. Ninguém disse o que vai acontecer conosco. ”

“Moro aqui no assentamento Ressaca há 24 anos. Eles nunca vieram aqui para dar qualquer informação. Há um boato aqui de que teremos que sair, ” diz Eduviges Ribeiro de Souza. “Temos medo de perder nossa casa. Existem dez famílias morando em meu lote de terra. É um terreno de reforma agrária. ”

A situação é agravada pelo fato de Belo Sun ter sido acusada de comprar ilegalmente terras públicas na mesma área. Uma ação cível de 2013, pendente de julgamento, alega que a empresa adquiriu uma série de imóveis públicos na região, por meio de transações irregulares. Uma investigação criminal em andamento foi aberta para investigar as alegações de que Belo Sun comprou terrenos que pertencem ao programa federal de reforma agrária. Pelo menos 21 lotes de famílias assentadas na área foram negociados diretamente pela empresa e pelos moradores, segundo pesquisa recente de um grupo de estudos da Universidade Federal do Pará.

“Na prática, o INCRA está regularizando a grilagem. A agência está usando as atividades ilegais da empresa para dizer que as famílias não estão mais nas machambas e que, portanto, a área não é mais utilizada para reforma agrária ”. afirmou Elisângela Cortez, Defensoria Pública Federal, em entrevista ao Estado de S.Paulo. Ela declarou que seu gabinete vai entrar com uma ação na Justiça Federal para pedir a anulação do contrato. “É claro que este contrato é nulo e tem que ser cancelado. Não houve consulta às famílias locais. Recebemos relatos de vários residentes que não foram consultados. Não houve publicidade para o que seria feito. Chama a atenção o fato de não haver um único ato formal do INCRA determinando a extinção de parte do assentamento ”. disse o Defensor Público.

A Aliança pela Volta Grande do Xingu, coalizão internacional com nove organizações que atuam em defesa das comunidades que protegem suas terras e direitos ameaçados pela Belo Sun Mining Corp., denunciou o caso a representantes das Nações Unidas, da União Europeia e da empresa investidores. “O processo de transferência das terras federais do assentamento Ressaca e seus residentes tradicionais ribeirinhos e da reforma agrária subverte os princípios da reforma agrária inscritos na lei ao conceder terras públicas e habitadas aos interesses privados da mineração de Belo Sun”, sua declaração diz. “Contestamos totalmente, portanto, o contrato e a tentativa de apagar e silenciar os colonos e o território do assentamento Ressaca.” 

Os membros organizacionais da coalizão incluem: Associação Interamericana de Defesa Ambiental, Amazon Watch (AIDA), Earthworks, International Rivers, Instituto Socioambiental – ISA, Mining Watch, Movimento Xingu Vivo para Sempre e Rede Xingu+ fazem parte da Aliança pela Volta Grande do Xingu.

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